Uma vez é casualidade; duas, é coincidência… mas os quatro acidentes registrados nos desfiles de carnaval no Rio de Janeiro mostram que há algo errado com o que muitos consideram “o maior espetáculo da Terra”.

Em 33 anos de história do Sambódromo não houve nada igual.

“O que aconteceu foi lamentável. Espero que sejam tomadas as medidas necessárias para que isso não aconteça mais. O bom senso deve prevalecer, senão tem que haver um maior rigor”, declarou à AFP Rosa Magalhães, a veterana carnavalesca da São Clemente.

Apesar de já terem ocorrido sustos antes, como incêndio em carros alegóricos ou seu descontrole, nunca se viu uma sucessão de acidentes com tantos feridos.

Ao menos 32 pessoas sofreram ferimentos, duas delas com gravidade, na festa carnavalesca mais icônica do Rio.

Ante mais de 70.000 espectadores, um carro alegórico da Paraíso de Tuiuti perdeu o controle e atropelou 20 pessoas, outro carro da União da Ilha perdeu o controle, sem deixar vítimas, a base de uma destaque desabou na Mocidade Independente e mais um carro alegórico, dessa vez da Unidos da Tijuca, desabou em pleno desfile, ferindo mais de 30 pessoas.

Segundo as primeiras averiguações, um excesso de peso teria sido o responsável pelo último acidente.

– Medidas e bom senso –

Apelar para o bom senso citado por Rosa Magalhães é o que tem tentado fazer a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), que organiza o evento desde que, em 1984, passou a ser realizado no Sambódromo.

Não há normas específicas para a construção dos carros alegóricos, elaborados pelos carnavalescos com a participação de um responsável técnico. Uma vez terminados, a única revisão pela qual passam é a dos bombeiros, que se limitam principalmente a verificar se possuem equipamentos de prevenção de incêndios.

Acontece que os carros alegóricos das principais escolas de samba cariocas assumiram tamanhos desproporcionais, virando verdadeiros prédios sobre rodas e dotados de complexos sistemas de efeitos especiais.

Em 2015, a simbólica águia da campeã deste ano, Portela, era tão colossal – 18 metros – que foi preciso inventar um sistema para que passasse por baixo de uma das torres de televisão.

“O Carnaval cresceu muito, mas as medidas de segurança não acompanharam essa evolução”, declarou ao jornal O Globo Márcio Guimarães, coordenador de grandes eventos do Ministério Público estadual.

A Liesa já anunciou que se reunirá com as associações para “realizar ajustes”.

E o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) assegurou que acelerará a definição de regras de certificação e controle dos carros alegóricos para 2018.

Mas é de se destacar que os acidentes na Sapucaí aconteceram em meio à grave crise econômica vivida pelo Rio de Janeiro, o que tornou mais difícil para as escolas contar com seus patrocínios e as obrigou a reutilizar materiais ou comprar outros mais baratos.