Sediada em Berlim, a ONG Transparency International tem como missão combater a corrupção em escala global. É uma organização séria e criteriosa. Seu principal produto é um estudo sobre a corrupção no setor público. O relatório referente a 2016 foi divulgado na quarta-feira 25.

Distinguindo diversos aspectos do conceito genérico de corrupção e consultando instituições de pesquisa e especialistas, a Transparency classificou 176 países com base numa escala de percepção da corrupção. A escala varia de zero a cem. Zero é o limite inferior, indicando um país extremamente corrupto; cem, o limite superior, designa o máximo de “limpeza” existente no mundo atual.

O Brasil ficou na 79ª posição, caindo três lugares em relação a 2015. O texto divulgado menciona o escândalo Odebrecht e a Operação Lava Jato como avanços no combate à corrupção, mas ressalta que o Brasil tem muito a fazer nessa área. A corrupção reforça a pobreza e as desigualdades sociais e acentua a estagnação econômica, situações que por sua vez realimentam a corrupção.

Não há como medir a corrupção, não só por se tratar de um fenômeno de muitas faces, mas porque a primeira preocupação de todo corrupto é ocultar a natureza ilícita de seus atos

O exposto já sugere que o mapa mundial da corrupção não traz grandes surpresas. Os países menos corruptos são os superdesenvolvidos da América do Norte, os europeus (especialmente os escandinavos) e os asiáticos de origem anglo-saxã, Nova Zelândia e Austrália. Extremamente corruptos são os mais pobres do Terceiro Mundo, notadamente os africanos. Em linhas gerais, a América Latina ocupa um espaço intermediário, ilustrado pela 79ª colocação do Brasil.

Fiel à sua denominação oficial, a Transparency mantém uma estrita transparência no que concerne aos conceitos, fontes de informação e métodos estatísticos que utiliza. Ressalta, como não poderia deixar de ser, que o objetivo de seus estudos é medir a “quantidade” de corrupção no setor público dos países pesquisados. Mas não há como medir diretamente a corrupção, não só por se tratar de um fenômeno de muitas faces, mas porque a primeira preocupação de todo corrupto é ocultar a natureza ilícita de seus atos.

Assim, o que a Transparency de fato mede é, pois, a intensidade relativa da percepção da corrupção de um país a outro. Aí é que residem as qualidades, mas também as limitações, de seu trabalho.