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COMPANHEIROS
José Francisco gosta de consultar a mãe, Maria Cecília Monteiro: “Ela é uma amiga”, diz

Agora as mães têm desculpa com comprovação científica para grudar nos seus meninos. Aquelas que estão por perto sempre que o filho precisa podem não saber, mas estão ajudando a formar um adulto cujas características fogem do estereótipo do machão. E, ainda por cima, contribuindo para o bem-estar de sua cria. Afinal, homens sensíveis, carinhosos e comunicativos têm mais chance de se relacionar melhor com as pessoas à sua volta. É o que revela o estudo “The Missing Story: Resistence to Ideals of Masculinity in the Friendship of Middle School Boys” (A história perdida: resistência aos ideais de masculinidade nas amizades de meninos da Middle School, em tradução literal), do psicólogo Carlos Santos, professor da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos.

Apresentada recentemente, durante a 18ª Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia, a pesquisa constata que, na adolescência, os meninos se sentem pressionados a mostrar que seu organismo já produz altas doses de testosterona e se tornam durões, arredios e fechados. O adolescente apegado à mãe – carinhosamente chamado de “filhinho da mamãe” – consegue fugir a essa regra e é mais seguro para exercer a sua sensibilidade. “O homem sensível e comunicativo é mais feliz, porque conduz melhor os seus relacionamentos pessoais, e é mentalmente mais saudável, pois corre menos risco de desenvolver depressão”, diz Santos. O estudo se baseou em entrevistas com 426 meninos de 10 a 14 anos de Nova York, Estados Unidos, durante os anos que correspondem ao ensino fundamental II no Brasil.

“As mulheres expressam melhor os seus sentimentos
e os meninos só ganham ao se espelharem nelas”

Carlos Santos, psicólogo

A proximidade paterna não imuniza os filhos dos estereótipos do machão. Isso leva o psicólogo Santos a crer que os jovens que fogem ao modelo estão influenciados apenas pelo comportamento tipicamente feminino de suas mães. “Em geral, as mulheres expressam melhor os seus sentimentos e se comunicam com mais facilidade e os meninos só ganham ao se espelharem nelas”, diz o pesquisador. Consciente da influência que tem sobre o filho, a professora Patrícia Luzório, 36 anos, privilegia o diálogo ao embate e faz questão de ser carinhosa no trato com Lucas, 14. “Ele é um menino de personalidade, que se sente seguro para ser o que é, sensível e romântico, mesmo perto dos amigos.”

Hoje em dia, com a mulher se dividindo entre as tarefas de casa e do trabalho, estar presente para os filhos exige sacrifícios. Mas a dedicação é recompensada. Para criar os três filhos, dois meninos, de 16 e 15 anos, e uma menina de 11, a educadora Maria Cecília Monteiro, 44, amamentou por dez meses os seus rebentos e ficou cinco anos afastada do trabalho. “Sempre valorizei estar perto dos meus filhos. O José Francisco, por exemplo, é seguro, tem ótima autoestima e é extremamente carinhoso, do tipo que pede beijo para a irmã mais nova”, diz ela. Francisco, por sua vez, não tem dúvida do apoio da mãe. “Ela é uma amiga, gosto de consultá-la para questões mais amplas e me baseio na sua experiência de vida”, diz ele.

“Sempre valorizei estar perto dos meus filhos. O José Francisco
é seguro, tem ótima autoestima e é extremamente carinhoso”

Maria Cecília Monteiro, educadora

Apesar da crescente popularização da psicologia evolucionista, que defende que os cérebros de homens e mulheres possuem diferenças, especialistas acreditam que as características associadas aos gêneros feminino e masculino têm mais raízes culturais do que biológicas. Professora de saúde mental da Universidade de Massachussetts, nos Estados Unidos, a psicóloga Sharon Lamb é autora de um estudo que investiga a influência da mídia no comportamento dos meninos e acredita que os super-heróis da atualidade são responsáveis por influenciar as crianças a se tornarem agressivas. “O super-herói de hoje é muito diferente do de antigamente”, disse ela, na mesma convenção de psicologia que Santos participou. “Ele é mais agressivo, sarcástico, prefere as armas ao diálogo e raramente fala sobre o valor de se fazer o bem para a humanidade.” É bom saber que a doçura materna é arma capaz de exterminar os inimigos. Disfarçados de super-heróis ou não.