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PARAÍSO?
Um resort de luxo, um condomínio residencial e um parque ecológico
fazem parte do projeto Khawr Awqad, no deserto da Arábia

A cena na foto não causaria espanto, não fosse por um detalhe: ela deve se passar no deserto da Arábia dentro de cinco anos. A criação de um paraíso tropical em meio a um cenário árido está sendo executada pelo escritório americano de arquitetura Klingmann, um gigante do ramo que agrega também a função de consultoria de marca. Planejado para começar a funcionar em 2015, o resort Khawr Awqad, como foi batizado, pode virar realidade graças a uma ilha de umidade no deserto arábico: a cidade de Salalah, uma das maiores de Omã, país situado na extremidade oriental da Península Arábica. Constituída de uma planície entre o paredão das montanhas Al-Hajar e o Mar Arábico, a região é beneficiada com o vento úmido marinho.

O escritório Klingmann divulga o projeto como “um destino único com foco na educação, no ecoturismo e na vida sustentável” que contribuirá para a preservação da vida natural da região. O empreendimento prevê a criação de terraços, a reprodução em larga escala de espécies vegetais nativas e tropicais e a drenagem da água do mar. As instalações incluem um parque ecológico, uma área residencial e um resort de luxo. Um verdadeiro oásis artificial. O projeto foi encomendado pelo governo de Omã e pela empresa Global Omani Development & Investment. Anna Klingmann, diretora da companhia, garante que o meio ambiente local não sofrerá impactos negativos. “A água já está lá. Então iremos apenas limpá-la e redesenhar seu curso em alguns pontos, para realçar a beleza. A vegetação do local, que é escassa em algumas áreas, receberá cuidados intensivos para gerar jardins exuberantes” explica.

Mas por trás do clima de paz e harmonia que o projeto ostenta pode estar a semente da instabilidade. José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ressalta que nenhuma alteração na natureza está livre de consequências. “Toda mudança gera impacto no ecossistema. Um oásis surge naturalmente, mas apenas por um período de tempo, depois desaparece. Se você interfere nesse processo, a lagoa deixa de ser natural. Tudo o que você retira da natureza é reposto por ela em algum momento” explica.

Os arquitetos da Klingmann não são os únicos a projetar um oásis no deserto. Ainda em fase de experimentação, o Sahara Forest Project pretende usar tecnologias simples para desenvolver regiões de mata em desertos dos EUA e de Omã. A ideia é usar energia solar para abastecer estufas e dessalinizar a água, gerando alimentos, biocombustível e minerais. Tudo parece maravilhoso, mas Marengo relembra alguns obstáculos para o resultado dar certo. “Do ponto de vista da engenharia é perfeitamente possível. Mas esse tipo de empreendimento ainda é caríssimo, só os países árabes podem bancar”, ressalta. O alcance do impacto positivo também é questionável. “A construção e a manutenção dessas áreas verdes não vão resolver o problema da desertificação. O máximo que pode acontecer é uma melhora no microclima da região. Mas a aridez é um fenômeno climático que depende de inúmeros fatores”, completa o pesquisador.

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