chamada.jpg

A construção do tão aguardado estádio do Corinthians, já apelidado de “Fielzão”, foi anunciada oficialmente na quarta-feira 1º, dia do centenário do clube paulistano. A arena será erigida em um terreno doado pela prefeitura em 1988 no bairro de Itaquera, zona leste da cidade. Modular, terá capacidade inicial para 48 mil pessoas, mas poderá ser ampliada em 20 mil lugares, condição para que se candidate a estádio de abertura da Copa de 2014. É a última cartada da cidade de São Paulo para sediar a abertura do Mundial de futebol, depois que o estádio do Morumbi foi vetado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). E é aí que começa a confusão.

img1.jpg
ADAPTÁVEL
Construir anexos aumentaria a capacidade do Fielzão em 20 mil pessoas

Em comunicado oficial, a Construtora Odebrecht confirmou que vai bancar a primeira fase, orçada em R$ 335 milhões e com 48 mil lugares, para depois vender os direitos sobre o nome da arena e assim recuperar o investimento. Já a origem do dinheiro para a segunda fase continua nebulosa. Os governos municipal, estadual e federal garantiram que não colocarão um centavo sequer. Andrés Sanches tem a própria Odebrecht e até a Fifa como possíveis investidoras dos outros R$ 180 milhões requeridos para a ampliação. “É o que a Fifa fez na Alemanha, em 2006, e na África do Sul, em 2010”, lembra Jorge Hori, consultor do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) e colunista do site Copa 2014.

img2.jpg

Se a empresa ou a federação internacional não toparem, há outras alternativas. Segundo Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol, várias companhias têm interesse em ajudar o Fielzão. “Tenho recebido continuamente ligações de grandes empresas querendo comprar camarotes”, diz ele, que vê essa disposição como sinal de que as carteiras se abrirão. Podem até se abrir, mas só quando seus donos souberem quanto terão de desembolsar. “Antes de discutir quem banca o quê, vale questionar os valores iniciais colocados pela Odebrecht, que considero abaixo da média”, diz o consultor Hori.

Especialistas calculam que só a primeira etapa de construção, marcada para começar até o final deste ano, já deve ultrapassar os R$ 400 milhões. É uma conta válida, visto que o terreno escolhido ai­nda pas­sa por terraplanagem e muitos pro­blemas – como a recente descoberta de dutos de combustível da Transpetro que estão embaixo da área escolhida – ainda podem surgir. Isso elevaria o custo inicial por assento da obra em Itaquera, estimado em R$ 6.979, para valores mais reais e alinhados com os custos de outras grandes arenas em construção pelo País, algumas, inclusive, sob responsabilidade da mesma Odebrecht (leia quadro com o comparativo de custo por assento). “Um valor razoável para cada assento é de R$ 10 mil”, explica Hori. Por essa quantia, o custo da primeira etapa ficaria em R$ 480 milhões – R$ 145 milhões a mais do que diz o pré-contrato da Odebrecht – e o da segunda seria de R$ 200 milhões, R$ 20 milhões a mais que as estimativas que têm circulado. E quem pagará a diferença? Pelo menos na primeira etapa, a responsabilidade é do Corinthians.

img.jpg
VETADO
Adequar o Estádio do Morumbi às normas da Fifa ficou caro demais

Mas, para valorizar o ativo que terá e conseguir arcar com as despesas da empreitada, o clube tem apoio dos governos estadual e municipal. A prefeitura insiste em dizer que as melhorias previstas para a populosa Itaquera, na periferia paulistana, seriam feitas com ou sem estádio, mas é sabido que as obras ganharão ritmo com o apertado prazo da Copa. A finalização do prolongamento de importantes acessos, como a avenida Jacu Pêssego, e o aumento no número de trens do metrô e da Companhia Pau­lista de Trens Metropolitanos (CPTM), por exemplo, serão acelerados. Trata-se de um efeito colateral positivo e programado da escolha de uma região relativamente mal servida por aparelhos urbanos, prática comum de comitês que selecionam sedes para Copas e Olimpíadas. Que o diga Barcelona, que, desde os Jogos Olímpicos de 1992, viu renascer regiões abandonadas da cidade graças às obras para o evento.

img3.jpg

“No caso de Itaquera, a única pena é que as melhorias serão feitas no susto, a toque de caixa”, lembra Eulália Portela Negrelos, urbanista da Universidade de São Paulo em São Carlos. “Mas antes fazê-las do que deixar a zona leste desassistida”, reconhece. Somente a perspectiva de melhora no populoso bairro já criou uma onda de especulação imobiliária. “Tinha vendas fechadas que, depois do anúncio, foram suspensas pelos proprietários, que querem cobrar mais pelo que vendiam”, conta José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP). Com promessas como a do secretário do Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo, Miguel Bucalem, que diz que colocará 68 mil torcedores dentro do estádio em 50 minutos, é natural esperar uma melhoria na infraestrutura e a consequente valorização da região. Mas todo mundo tem que cumprir o que prometeu. Em quatro anos saberemos quem falou mais do que devia.
Colaborou Debora Rubin