Existe em São Paulo o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Cuida de investigar os assassinatos nos quais a autoria é desconhecida. Alguns policiais de uma das equipes do DHPP são fortes candidatos a entrar pela porta de trás no Guinness Book ou pela porta da frente no Brasil: nunca mais. Conseguiram que o cidadão Luciano Helfstein Miranda, quando esteve preso no DHPP, admitisse em oito dias a autoria de oito assassinatos que estavam pendentes nos arquivos (processos 904/03, 1057/02, 1974/02, 1740/02, 296/03, 481/02, 987/02, 61/03). A média recordista digna do Guinness, de uma confissão por dia, foi atingida após “consulta aos arquivos”, nas palavras dos próprios policiais. Pode-se pensar o inimaginável: que o próprio preso Luciano foi abrindo os arquivos, revirando os inquéritos e dizendo: esse fui eu…, deixa eu ver… esse outro homicídio também fui eu…, ah, esses dois aqui também são crimes meus…. e assim por diante. É como se o moço pertencesse a uma espécie de Xilindró dos Confessos Compulsivos (XCC) do DHPP. Mas pode-se cogitar também de que a marca dos oito crimes admitidos em oito dias aconteceu porque Luciano foi levado a confessar, um recorde digno do Brasil: nunca mais. Luciano continua encarcerado e ISTOÉ teve acesso agora aos documentos. Luciano foi preso no dia 9 de maio e não parou de confessar até o dia 16. Quem depôs contra ele nesse caso o fez de orelhada: apresentou três versões diferentes e disse que apenas ouviu falar do crime. Quanto aos demais assassinatos, todos os testemunhos são de outros presos que estavam no DHPP, sendo que um preso não conhecia o outro, nem os crimes guardam relação entre si. Há também contra Luciano o testemunho de pessoas que estavam passando pelo DHPP para tratar de outros assuntos e nem ouviram Luciano depor: assinaram aquilo que a polícia lhes pediu. Na Justiça, todos os presos afirmaram que foram torturados, negaram culpa e disseram que assinaram as confissões sem saber o que estava escrito no papel. Num dos processos (1740/02), a Justiça já decidiu não mandar Luciano a júri porque não há provas de que foi ele o assassino. Apesar de ele pertencer ao XCC do DHPP, o moço não ficou triste com essa decisão judicial.