O ícone mais unânime entre os soldados, marujos e aviadores americanos na Segunda Guerra Mundial não era a cruz, a estrela-de-david ou a bandeira dos EUA. Na verdade, era a mesma representação guardada com devoção também por civis solitários, garotos púberes e grupos masculinos diversos. As pinups – belas e sensuais garotas em trajes sumários, provocantes, ou mesmo sem nada sobre a pele, estampadas em papel – é que tinham a primazia das preferências dos machos ianques. Reinaram com o maior vigor desde os anos 30 até meados da década de 60, mas já partiam corações e mentes desde o século XIX. Estabeleceram-se como a quinta essência da cultura popular americana e ganharam as paredes de quase todo o mundo: com um sorriso, uma piscadinha, beicinhos marotos e toneladas de erotismo. Por tudo isso, o Museu do Sexo, de Nova York – o primeiro do gênero no país – resolveu comemorar seu segundo aniversário, perfilando a trupe da exposição Vamps & virgens; a evolução da fotografia de pinups americanas. 1860-1960. Baseada nos arquivos de Mark Rotemberg – uma das maiores autoridades no assunto –, a mostra conta com filmes, fotos e revistas que foram paraísos portáteis nas mãos dos homens.

Entenda-se: nem toda foto de mulher pelada a qualifica como pinup. Até porque não se pendura a imagem de uma baranga na parede. “É preciso arte”, explica a curadora da mostra, Jennifer Kabat. Claro, tanto da parte da natureza quanto do fotógrafo e da modelo. Mas o que é hoje um jaburu pode ter sido uma tetéia nos tempos do vovô. Pelo que se vê nos corredores do Museu, as rechonchudas atiçavam os nervos de nossos antepassados. Um predicado, nota-se, que não mudou muito no gosto americano: os seios grandes continuam preferência nacional. Mas há o belo, o ruim e o feio, como só haveria de ser numa exposição tão prolífica. Das imagens meramente reveladoras de obscenidade, chega-se até o grande mito do estilo pinup na figura de Betty Page – a modelo bem fornida que marcou presença em milhares de fotos entre os anos 40 e 60. “O que pretendemos com esta série foi mostrar as mudanças de atitude das mulheres em relação à exposição a seu corpo. Sem as pinups, as mulheres hoje seriam muito mais retraídas”, diz Jennifer. E os homens, a curadora poderia completar, seriam muito mais infelizes.