Lagoa dos Três Cantos fica a 300 quilômetros de Porto Alegre. Lá vivem 1.650 pessoas e só existe um posto de saúde, com um médico. Até recentemente, quem se queixasse de uma dor persistente teria de fazer exames em outro município ou encarar uma viagem de três horas até a capital. Há um mês, problemas como esse são solucionados sem tantas idas e vindas. A razão é o serviço de telemedicina, que permite ao doutor da cidade, o clínico-geral Marcus Dalsasso, 29 anos, trocar informações online com especialistas da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

O posto conta com um aparelho de ultra-som ligado a um computador com acesso à internet. Em Porto Alegre, há um profissional para avaliar os exames enviados pela web. E até para orientar o teste. O primeiro paciente atendido por Dalsasso pelo esquema – uma senhora que achava estar com gastrite – repetiu o exame porque os especialistas da Santa Casa suspeitaram de algo mais sério. Ela estava com um cálculo na vesícula e foi encaminhada para uma cirurgia.

No sistema antigo, a mulher passaria por uma consulta e seria orientada a  marcar exames em outra cidade, o que implicaria aguardar alguns dias até fazê-los. Depois, esperaria mais um tempo para se submeter à operação. A experiência mostra que a telemedicina pode se estender a gente que, em tese, está distante dessa realidade. “A população daqui resiste a sair da cidade”, conta Dalsasso. Lagoa é o primeiro município atendido pela Santa Casa.  O médico Jaques Bacaltchuk, diretor da instituição, revela que São Borja  (a 600 quilômetros de Porto Alegre) se integrará ao serviço.

Em São Paulo, a ONG Instituto para o Desenvolvimento da Saúde (IDS), que envolve médicos de família, conseguiu o apoio de empresas e instituições (Microsoft e Associação Congregação de Santa Catarina, entre elas) para montar um projeto semelhante em Pedreira, na periferia paulistana. No posto local, há um computador para acessar um site exclusivo no qual são relatados alguns casos para os profissionais do hospital geral do bairro. “Numa situação que exige conhecimentos específicos, o médico de família tem de consultar um especialista”, afirma Fábio Vieira, 28 anos, que atuou na região. A resposta não tarda. “Resolvemos problemas com agilidade”, explica Vieira. O presidente da IDS, o médico Raul Cutait, comemora os resultados. “De um lado está o especialista. De outro, o médico de família, que se sente mais seguro com a ajuda. Com isso, o profissional aprende mais e o paciente não perde tempo”, conclui.