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Se ainda restava alguma cidadela tucana na disputa presidencial, era o eleitorado de São Paulo. Administrado nos últimos 16 anos pelo PSDB, o Estado que hoje abriga o maior colégio eleitoral do País, com cerca de 30 milhões de eleitores, anunciava-se como a principal fonte de votos da campanha de José Serra à Presidência. E os tucanos acreditavam que uma expressiva votação em São Paulo seria capaz de compensar a força da candidata do PT, Dilma Rousseff, no Nordeste, região onde o presidente Lula alcança seu maior índice de popularidade. Na projeção inicial do PSDB, São Paulo serviria também como um catalisador de votos dos demais Estados da região Sudeste e Sul. Mas, a julgar pelas pesquisas de opinião, o último bastião tucano foi implodido nessas eleições. De acordo com pesquisa da Datafolha divulgada na quinta-feira 26, Dilma não só ultrapassou Serra no Estado (41% a 36%) como lidera também na capital paulista, administrada pelo prefeito Gilberto Kassab, do DEM (41% a 35%). “Isso é reflexo do nível de satisfação da população. Sete em cada dez brasileiros acham que o País está no rumo certo. Parte expressiva deste contingente eleitoral tende a votar na candidata do PT”, disse o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

A candidata do PT manteve a curva ascendente e abriu 20 pontos de vantagem sobre Serra em todo o País: 49% a 29%. Há duas semanas, já se cristalizava a formação de uma onda Dilma varrendo os principais Estados, a partir do bom desempenho da ex-ministra nos programas no horário eleitoral gratuito e da entrada de Lula na campanha. A onda, porém, transformou-se rapidamente num tsunami e a vitória de Dilma no primeiro turno parece cada vez mais provável. “É o que podemos chamar de efeito Lula”, ressaltou Fleischer. Se o pleito fosse hoje, Dilma teria 55% dos votos válidos e liquidaria a eleição. Na última semana, além de superar o tucano em São Paulo, Dilma assumiu a liderança no Rio Grande do Sul, no Paraná e entre os eleitores com maior faixa de renda, antes considerados filões de José Serra. No Rio Grande do Sul, governado hoje pela tucana Yeda Crusius, a petista passou de 35% para 43%, contra 39% de Serra, que caiu três pontos percentuais. No Paraná, histórico reduto tucano, cuja capital, Curitiba, é administrada por Beto Richa, do PSDB, Dilma pulou de 34% para 43%, enquanto o tucano despencou de 41% para 34%. Dilma, agora, detém o primeiro lugar em todas as regiões do País.

O resultado em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País, também é um exemplo do avanço nacional da candidatura de Dilma. No Estado, governado há oito anos pelo PSDB, o ex-governador Aécio Neves tem conseguido, nos últimos dias, transferir votos para o seu sucessor, Antonio Anastasia, que disputa o Palácio da Liberdade contra Hélio Costa (PMDB). Num movimento oposto ao do tucano Anastasia, Serra vê sua candidatura minguar em Minas a cada dia que passa. Dilma, por sua vez, não para de crescer. Em apenas uma semana, enquanto a petista passou de 41% para 48%, Serra caiu de 34% para 29%. Consolida-se, portanto, a corrente Dilmasia, tendência que apoia Anastasia para o governo e Dilma para presidente. Herdeiro do Lulécio, criado em 2002, o Dilmasia conta hoje com o apoio de mais de 400 prefeitos do Estado. A vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai, personifica esse fenômeno. Amiga de Dilma, Fernanda aparece num vídeo postado no site de Aécio, elogiando sua gestão.

DINHEIRO
Campanha de Dilma já arrecadou
R$ 75 milhões, quatro vezes mais que a de Serra

Outra prova da força avassaladora de Dilma é o fato de a coligação em torno da petista ter arrecadado quatro vezes mais do que a de seu principal adversário. De janeiro a julho deste ano, Dilma já recebeu R$ 75,1 milhões em doações aos partidos de sua chapa: PT, PMDB, PCdoB, PDT, PRB, PR, PSB, PSC, PTC e PTN. Enquanto isso, a coligação de Serra, que inclui PSDB, DEM, PPS, PTB, PMN e PTdoB, recebeu apenas R$ 19,4 milhões. Já o PV de Marina Silva ficou com R$ 7,4 milhões. “Não tem faltado dinheiro para nós. O que estamos fazendo é racionalizar a utilização dos recursos”, tenta minimizar o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.

Embora Dilma esteja bem próxima da vitória, a ordem no staff petista é evitar o salto alto. Nos últimos dias, a candidata tratou de desautorizar qualquer conversa sobre futura composição de governo. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reforçou: “Da parte da Dilma e do comando da campanha, não tem esse clima de já ganhou. Nossos adversários é que vivem um clima de já perdeu.” Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu conclamou a militância petista a não esmorecer na reta final da campanha. “Sebo nas canelas e pé na estrada. Vale lembrar que a eleição é ganha com muito trabalho até a hora da abertura das urnas”, disse. Mas a perspectiva de vitória já no primeiro turno tem um lado positivo, na opinião de outro dirigente petista. “Temos que tomar cuidado para não parecer soberba, mas essa onda avassaladora desorganiza o adversário”, avalia. No núcleo mais próximo de Dilma, o que mais se ouve é que a militância do PT continuará agindo como a garotada do Santos: “Pode estar ganhando de cinco, mas sempre quer mais.”

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