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ORIENTAÇÃO
Cozac, psicólogo do esporte, dá o diagnóstico dos
nossos craques: “Corpos de aço em bases de barro”

Técnicos e dirigentes de futebol do País estão preocupados com a saúde de seus jogadores. Fisicamente bem preparados, os superatletas têm se revelado seres humanos frágeis emocionalmente. Episódios recentes, como os protagonizados por jogadores do Santos que, via Twitter, trocaram insultos com torcedores, revelam a forma inadequada com que os craques, amparados por uma falsa sensação de poder ilimitado, se comportam. “Eles são submetidos a um caldeirão de crises de identidade. Dormem pobres e desconhecidos e acordam ricos e famosos. Isso pira qualquer pessoa”, afirma o psicanalista Jorge Forbes, que foi procurado pelo presidente do time santista, Luis Álvaro Ribeiro, para criar um projeto voltado para a psique dos atletas. Tudo para que o clube não sofra derrotas dentro e fora do campo.

“Temos jogadores com corpos de aço em bases de barro”, diz João Cozac, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, que já prestou consultoria para várias equipes. Neste mês, o time do Palmeiras contratou Regina Brandão, doutora em psicologia do esporte com passagens pelas seleções brasileira e portuguesa. “O brasileiro tem dificuldade de dominar suas emoções, lidar com o favoritismo e manter a concentração”, diz ela. O São Paulo também está prestes a anunciar a parceria com um psicólogo para atuar em suas categorias de base. Até mesmo a Seleção Brasileira estuda a possibilidade de criar um departamento de psicologia. “Esse suporte é importante”, afirma Bruno Cardoso, goleiro palmeirense. “Muitas vezes não querem saber dos nossos problemas particulares.”

O Flamengo, talvez o maior exemplo de clube que sofreu com os problemas extracampo de seus agora ex-craques, também recorreu a profissionais de psicologia. “O universo financeiro cada vez mais inflacionado no futebol brasileiro mexe com a cabeça do jogador”, afirma o diretor executivo de futebol Arthur Antunes Coimbra, o Zico, defensor do trabalho dos psicólogos. Forbes ressalta a necessidade de unir um grupo respeitando as diferenças de cada um. Segundo ele, não se juntam pessoas em torno de uma bandeira, um símbolo, como antes. “É uma mentira deslavada tentar unir a rapaziada dizendo que, em prol do espírito de equipe, não há diferenças”, afirma. Em outras palavras, quer que um outro jogo seja jogado.