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Dizem que mineiro é desconfiado por natureza. E isso se reflete também na forma como o eleitor de Minas Gerais decide seu voto. Em 2008, Leonardo Quintão (PMDB) tinha 22 pontos de vantagem sobre Marcio Lacerda (PSB) no início da disputa para a Prefeitura de Belo Horizonte, mas em poucos meses a situação se inverteu e Lacerda acabou levando a melhor num segundo turno inesperado. Tudo indica que esse fenômeno pode se repetir na atual corrida pelo Palácio da Liberdade. A última pesquisa do Ibope mostra um crescimento de seis pontos percentuais do governador Antonio Anastasia (PSDB), que agora ostenta 27% das intenções de voto – apenas 11 pontos percentuais atrás do ex-ministro Hélio Costa (PMDB), que caiu um ponto, ficando com 38%. A distância era de 18 pontos há menos de um mês, e deve se reduzir ainda mais à medida que os eleitores começarem a associar a imagem de Anastasia à do ex-governador Aécio Neves, cuja popularidade foi determinante para a vitória de Lacerda dois anos atrás.

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FÔLEGO
Aécio e Anastasia visitam até três cidades por dia

O avanço repentino de Anastasia pode ser comparado à arrancada da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, nos últimos meses. A partir do momento que ficou claro para a população que Dilma representava a continuidade do governo Lula, os eleitores indecisos bandearam-se para seu lado. Da mesma forma, em Minas, só agora o atual governador começa a ter sua imagem ligada à ideia de que será por meio dele que a bem avaliada gestão de Aécio Neves terá continuidade. “Fiquei calado este tempo todo vendo analistas de todo lado dando a derrota de Anastasia como certa. Mas em Minas você tem que ter um pouco mais de cautela”, disse Aécio Neves à ISTOÉ. Segundo ele, tornar Anastasia mais conhecido e aproximá-lo do êxito do governo dará mais musculatura à campanha. “Temos uma gestão muito bem avaliada. A população já tinha Anastasia como um homem sério e administrador competente. Faltava associá-lo ao sucesso da gestão. E isso está vindo com muita naturalidade”, afirma o ex-governador, agora favorito na eleição para o Senado.

“Fiquei calado este tempo todo vendo analistas dando a derrota de Anastasia como certa.
Mas em Minas você tem que ter um pouco mais de cautela”
Aécio Neves, ex-governador de MG

A percepção de que o jogo pode mudar em Minas é compartilhada pelo cientista político Fábio Wanderley Reis. “Há muito espaço para Anastasia crescer, pois boa parte do eleitorado ainda não sabe que ele é candidato ou que tem o apoio do Aécio”, diz o analista. Pesquisas internas do PSDB mineiro indicam que mais de 20% do eleitorado não sabe que Anastasia é candidato à reeleição, enquanto Hélio Costa, que já fracassou nas disputas de 1990 e 1994, não teria mais para onde crescer.

O início do programa eleitoral gratuito na tevê foi um fator fundamental para a arrancada da candidatura tucana. “O Anastasia tem se mostrado na tevê mais atraente para o eleitorado do que o Hélio Costa, pois consegue exibir os avanços da administração do PSDB e passar a mensagem de continuidade”, afirma Wanderley Reis. O cientista político Carlos Ranulfo ressalta que Costa ficou muito tempo isolado porque fez uma campanha praticamente sem adversário. “O Anastasia só agora entrou na campanha para valer. Aquele quadro inicial que mostrava distância de até 25 pontos, como saiu no Datafolha, está totalmente superado”, afirma.

Na coordenação da campanha tucana, o sentimento é de que as próximas duas semanas serão fundamentais para consolidar a atual tendência de crescimento. Desde o início da semana passada, quando o Ibope publicou sua última pesquisa, os dirigentes do PSDB resolveram intensificar as visitas conjuntas pelo Estado. A estratégia é mobilizar a militância, que estava dispersa. “A pesquisa despertou os aliados, acordou os prefeitos. Tínhamos um exército que ainda estava na expectativa, assustado com as primeiras pesquisas”, revela Aécio, que tem visitado até três cidades por dia ao lado de Anastasia e do ex-presidente Itamar Franco (PPS).

A mudança da dinâmica eleitoral, por outro lado, disparou o alerta no núcleo do PMDB mineiro. Segundo um coordenador da campanha, o desembarque de Lula no Estado será antecipado, para tentar conter o crescimento de Anastasia. “Lula e Dilma em breve voltarão a Minas para reforçar a nossa luta”, confirma Hélio Costa. À ISTOÉ ele se disse “contente” com a liderança nas pesquisas de opinião. Mas reconhece a dificuldade de mantê-la. “Sabemos que a disputa é dura e vamos, eu e Patrus, trabalhar muito nesses trinta e poucos dias que restam para a eleição”, disse. No programa da tevê não deve haver mudanças. Além do apoio declarado de Lula e de Dilma, o ex-ministro terá também o apoio do vice-presidente, José Alencar, que acaba de gravar sua participação no programa eleitoral de Hélio Costa.

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O clima na campanha tende a esquentar. Não só pelo corpo a corpo com o eleitorado, mas também a partir da briga de liminares na Justiça Eleitoral. A coligação de Hélio Costa, por exemplo, tentou impedir a participação de Aécio Neves no programa de Anastasia, mas a liminar foi suspensa por uma juíza do TRE. Também sem sucesso, os advogados do PMDB pediram a prisão do presidente da juventude do PSDB, Gabriel Souza Marques, 24 anos, que criou o blog Amigos do Anastasia. Por sua vez, os tucanos pediram à Justiça Eleitoral que investigue irregularidades nos gastos da campanha de Hélio Costa. Em Minas, é assim mesmo. Eleição só acaba quando termina.