ESTRATÉGIA Collor fez cartilha e programa de rádio

Em outubro do ano passado, o senador Fernando Collor (PTBAL) reuniu a sua equipe em seu gabinete e anunciou que tiraria uma licença de quatro meses. “A pauta daqui nos próximos meses não me interessa”, disse ele, no seu estilo seco costumeiro. Collor referia-se ao fato de que o Senado seguiria até o final do ano discutindo a cassação do mandato do então presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL). Ao voltar ao Senado no início da semana passada e deparar novamente com discussões sobre improbidade – a CPI dos cartões corporativos –, Collor ficou furioso: “Isso aqui continua não me interessando!” Protagonista do primeiro escândalo político após a redemocratização do País, tudo o que Collor deseja é passar o mais longe possível de novos escândalos. No período em que ficou fora do Senado, ele tratou de pavimentar um caminho que em muitos aspectos se assemelha ao que o levou à Presidência da República em 1989: construir em torno de si uma bandeira nacional que o leve de volta, em 2010, ao posto do qual foi catapultado com o impeachment em 1992. Quase 20 anos atrás, era o combate aos “marajás” do serviço público; agora, é a defesa da implantação do regime parlamentarista no Brasil.

A imagem de “caçador de marajás” de 1989 era algo artificial, uma maquiagem baseada em pesquisas e na intuição do que poderia atrair votos na primeira eleição presidencial após a redemocratização. Tanto que a era Collor foi sinônimo de ostentação, gravatas, uísques e carros importados, e um esquema milionário de arrecadação financeira a cargo de seu tesoureiro, Paulo César Farias, o PC. Agora, a defesa do parlamentarismo parece ter o mesmo propósito. Se a imagem da mordomia era algo forte no imaginário do eleitorado há quase 20 anos, agora Collor avalia que o que incomoda é a sensação de permanente instabilidade política, com escândalos sucessivos. Em 1989, ele era o jovem, desconectado dos esquemas políticos tradicionais, que podia, assim, mudar a situação. Agora, ele quer construir a imagem do homem calejado, que foi vítima dessa instabilidade política e da pauta de escândalos que, agora, pode ter a solução para o problema. Com a vantagem de ser – ou, pelo menos, parecer ser – tão desconectado quanto antes dos esquemas políticos tradicionais. E que quer voltar ao poder para abrir mão dele, trocando a centralização presidencialista pelo parlamentarismo. “O presidencialismo que exercemos no Brasil é sinônimo de crise”, afirma Collor.

Para ajudá-lo na construção da sua estratégia, o senador alagoano ainda conta com a estrutura da Presidência da República. Como ex-presidente, ele tem direito a dois assessores que o acompanham. Collor escolheu o general da reserva Sávio Costa, militar da área de inteligência que, na época em que Collor era presidente, organizava os espetáculos semanais que ele fazia ao subir a rampa do Palácio do Planalto, e o diplomata Márcio Cambraia, que o auxilia na área internacional. Collor primeiro imaginou que poderia chamar a atenção para si a partir do próprio Senado. Apresentou uma emenda estabelecendo o parlamentarismo que tramita na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Engajou-se numa frente parlamentarista. Bolou uma cartilha com uma história em quadrinhos explicando o sistema de governo, cujos fotolitos disponibiliza de graça para qualquer político interessado em editá- la. Criou um programa de rádio que envia também gratuitamente para rádios ligadas a políticos em todo o País explicações sobre o parlamentarismo. No final do ano passado, quando viu que o Senado talvez não fosse o cenário ideal para expandir a idéia, Collor tirou licença e saiu viajando pelo País. Fez vários encontros pequenos, reuniões com políticos locais em todos os Estados. Encontros ainda discretos, com o objetivo de se apresentar e construir alianças.

NOS ÚLTIMOS QUATRO MESES, O EX-PRESIDENTE
FEZ REUNIÕES POLÍTICAS EM TODOS OS ESTADOS

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Collor e o presidente do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson, avaliam que a ausência de Lula nas eleições de 2010 tirará delas a polarização entre PT e PSDB que aconteceu nos últimos pleitos. Uma situação que pode construir um cenário semelhante ao de 1989, com 14 candidatos à Presidência e pelo menos cinco que apresentaram chance real de se eleger (Collor, Lula,Leonel Brizola, Mário Covas e Afif Domingos). Esse cenário permitiu que um candidato de um partido pequeno e sem estrutura vencesse. Em 2010, pode se repetir o mesmo. A avaliação é que, com o recall de já ter sido presidente, Collor sairia para a disputa com um patamar de 15%. Numa eleição mais pulverizada, pode ser um bom trampolim. Ele sabe, porém, que, ao contrário de 1989, agora a rejeição de grande parte do eleitorado será contra ele. Esse é seu maior obstáculo.


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