i55362.jpg

O deputado e candidato a prefeito de Salvador ACM Neto (DEM-BA) era considerado o azarão da disputa municipal. A despeito de levar a marca mitológica do avô no nome e no DNA, a avaliação era de que ACM Neto seria um mero coadjuvante no duelo dos gigantes Jaques Wagner (PT), governador do Estado, e Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional, pelo espólio político do carlismo. Na Bahia, houve até quem duvidasse de que sua candidatura seria para valer. Porém, na largada da campanha para prefeito de Salvador, ACM Neto está contrariando as previsões. Enquanto os candidatos de Wagner e Geddel – o deputado Walter Pinheiro (PT) e o atual prefeito e candidato à reeleição, João Henrique (PMDB) – travam uma queda-de-braço nos bastidores pelo uso da imagem do presidente Lula na campanha, o neto de Antônio Carlos Magalhães dá demonstrações de fôlego eleitoral ao tomar a dianteira nas pesquisas de intenção de voto. De acordo com a mais recente sondagem do Ibope, o deputado do DEM está na frente com 29% da preferência em Salvador, contra 27% de Antônio Imbassahy (PSDB), 15% de João Henrique (PMDB) e 6% de Walter Pinheiro (PT).

A principal característica da campanha de ACM Neto é a ousadia. O discurso é de renovação. "Queremos implantar em Salvador um novo modelo de gestão, baseado na descentralização da administração e no governo de proximidade com a população", promete, anunciando que pretende reduzir o número de secretarias de 18 para dez e criar centros de gestão municipal levando escritórios da prefeitura para os principais bairros da capital, caso seja eleito. Para mostrar que não vai ficar apenas na retórica eleitoral, ACM Neto tem ido até onde o povo está. No último fim de semana de julho, o candidato se mudou de mala e cuia para o subúrbio da capital. Numa espécie de versão eleitoral do reality show Vida simples, em que os participantes trocam o conforto do lar por uma experiência no campo, o democrata passou 36 horas entre os bairros de Paripe e Pirajá. Participou de carreata, fez comício para três mil pessoas e até dormiu na casa de uma liderança comunitária da região. A intenção é repetir a experiência pelo menos durante um fim de semana por mês. E o resultado, até agora, é a liderança nas pesquisas eleitorais.

A proposta de ACM Neto que mais tem atiçado as discussões de mesas de bar em Salvador, porém, é a do Big Brother Bairro, que prevê a instalação de câmeras móveis em áreas da cidade onde são registrados os maiores índices de violência. As câmeras serão monitoradas por uma central, que acionará a polícia assim que algum crime for flagrado. O projeto está orçado em R$ 10 milhões e já nasce sob o signo da polêmica. "Essa proposta é inviável, eleitoreira e ineficaz", critica Antônio Imbassahy, candidato a prefeito pelo PSDB. "O objetivo é esse mesmo, criar polêmica, trazer a população para o debate", reconhece ACM Neto. "Políticos que demonstram resistência a idéias novas estão com a cabeça presa ao passado", acrescenta. ACM Neto não renega o passado, mas promete administrar Salvador sem olhar para o retrovisor. Para quem imaginava, por exemplo, que ele ficaria apenas escorado na imagem do avô, ACM Neto tem demonstrado que sabe muito bem dar uma face atual ao modo carlista de fazer política.