Em todas as Olimpíadas, a comparação é inevitável. Mede-se o grau de desenvolvimento de uma nação pela quantidade de ouros, como se os Jogos retratassem uma disputa não só esportiva, mas também econômica ou política entre os povos. Pequim 2008 é ainda mais simbólica porque ocorre num momento de inflexão da ordem global. A China, provável vencedora, afirma-se como superpotência, no exato momento em que os Estados Unidos, deslocados do trono, mergulham numa profunda crise financeira. Esse é um jogo a que o Brasil assiste de longe – tanto no esporte como na economia. No entanto, a corrida entre chineses e americanos pelo topo do mundo não é a que revela a maior evolução olímpica. Em Pequim, a verdadeira história de sucesso, ou o grande ponto fora da curva, é a Coréia do Sul. Na primeira semana olímpica, o pequeno tigre asiático, que abriga 48 milhões de pessoas num território do tamanho de Pernambuco, já disputava a terceira colocação.

O curioso é que, durante muitos anos, um dos grandes exercícios dos nossos intelectuais foi comparar a trajetória econômica do Brasil e da Coréia. A questão era simples: por que eles, partindo de uma base menor e sem recursos naturais, decolaram e nós não? A resposta parecia ser o modelo de desenvolvimento. Enquanto os coreanos investiram maciçamente em educação e perseguiram uma receita exportadora, que é competitiva por natureza, o Brasil se fechou e produziu carroças até a implosão liberal do início dos anos 90. Do modelo coreano nasceram multinacionais de alta tecnologia, como Hyundai, LG e Samsung.

A arrancada econômica da Coréia se refletiu no quadro de medalhas. A última vez que eles ficaram atrás do Brasil foi em 1968, no México – nós na 35ª posição e eles na 36ª. Depois disso, o foguete coreano disparou. Em Montreal 1976, eles chegaram ao 19º lugar, subiram para o 10º em Los Angeles 1984, alcançaram o 7º posto em Barcelona 1992 e agora já estão entre as maiores potências esportivas do mundo. Enquanto isso, o Brasil tem terminado sempre perto da 20ª colocação. Um desempenho medíocre, muito aquém das potencialidades nacionais, mas que não tira o brilho dos nossos esportistas. Pequim trouxe exemplos emocionantes, como o da judoca Ketleyn Quadros, que competia em quimonos “de saco”, costurados pela própria mãe. Mas o que essas histórias revelam, em geral, é o esforço sobre-humano de atletas de ouro, num país de bronze. Alguns dirão que a vocação nacional é o esporte coletivo, como o futebol. Mas esta é a exceção que confirma a regra. O futebol, para muitas crianças, é uma porta de ascensão social. Os outros esportes, que contam com pouco apoio, exigem o mesmo grau de esforço, mas a recompensa é menor. Enquanto essa for a regra, os resultados dos Jogos serão sempre frustrantes, apesar de todo o ufanismo nacional.