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CONTRA
Centro islâmico (acima) que deverá ocupar prédio de 13 andares enfrenta oposição de 55% dos nova-iorquinos

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Em 11 de setembro de 2001, o mundo acompanhou perplexo pela tevê o maior ataque terrorista da história. O choque de dois aviões comerciais contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, surpreendeu pela ousadia dos terroristas e seu efeito arrasador: a morte de mais de três mil pessoas e a destruição completa do símbolo máximo da prosperidade americana. O atentado deflagrou uma frustrada caçada internacional ao líder da rede terrorista Al Qaeda, o saudita Osama Bin Laden, e serviu de pretexto para as guerras no Afeganistão e no Iraque. Na última semana, uma nova frente de batalha foi aberta, agora em Manhattan, com a polêmica sobre a construção de um complexo comunitário islâmico e de uma mesquita a menos de três quadras do Marco Zero, espaço deixado pelas torres. O bate-boca, do qual até o presidente Barack Obama participou, expõe a ferida não cicatrizada do atentado de nove anos atrás e testa os limites da tolerância religiosa da sociedade americana.

“Estamos na América e nosso comprometimento com a liberdade religiosa precisa ser inabalável”, disse Obama, num jantar na sexta-feira 13 que marcou o início do Ramadã – o mês sagrado de jejum para os muçulmanos. “Como cidadão, e como presidente, acredito que os muçulmanos têm o mesmo direito de praticar sua religião que qualquer outra pessoa neste país”, acrescentou. As declarações soaram como afronta aos ouvidos de familiares das vítimas do 11 de setembro e municiou a oposição republicana, que tenta usar o tema para desgastar Obama e os democratas, com vistas às eleições legislativas de novembro. “A coisa certa para o presidente fazer seria pedir aos muçulmanos que respeitem as famílias daqueles que morreram e mudem sua mesquita para longe”, rebateu o deputado republicano Peter King (NY). Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara, foi ainda mais duro ao dizer que a construção equivale a botar “uma placa nazista ao lado do Museu do Holocausto”.

Uma pesquisa do instituto Marist indicou que 55% dos nova-iorquinos se opõem à construção do centro islâmico. Para piorar a situação, até o líder democrata no Senado, Harry Reid, se opôs ao projeto e defendeu sua transferência para Nova Jersey. Diante disso, o presidente americano foi forçado a recuar, explicando que suas declarações não se referiam a um projeto específico, mas “ao princípio do tratamento igualitário”. Pura retórica, já que o Departamento de Estado americano anunciou em seguida o nome do imã Feisal Abdul Rauf, por trás do projeto da mesquita, como representante dos EUA para as nações muçulmanas e patrocina uma viagem do religioso a vários países do Oriente Médio. Feisal Abdul alega que a construção do centro religioso ajudará a deter o terrorismo islâmico e afirma que condena “o terrorismo”. “Somos muçulmanos moderados que querem fazer parte da solução”, disse.

Orçado em US$ 100 milhões, o polêmico projeto foi batizado de Cordoba House. Trata-se de um edifício de 13 andares, com mesquita, centro de fitness, salas de reunião e um auditório com 500 lugares. O imã garante que o local não será de uso exclusivo de muçulmanos e poderá ser frequentado por toda a comunidade, “como ocorre com o Centro da Comunidade Judaica”. Mas a explicação não convence as associações de familiares de vítimas do WTC. “Construir uma mesquita no marco zero é um ato deliberado de provocação que precipitará mais derramamento de sangue em nome de Alá”, diz Debra Burlingame, co-fundadora da ONG 9/11 Families for a Safe & Strong America. Para ela, o apoio de Obama fere a memória das vítimas. “Agora o presidente declara que as vítimas do 11 de setembro e suas famílias devem carregar um novo fardo. Permanecemos em silêncio ou corremos o risco de sermos chamados de intolerantes”, afirma. A organização de Debra e outros grupos de familiares planejam uma grande manifestação para o domingo 22.

Na próxima semana, ônibus circularão em Nova York com cartazes contra a instalação da mesquita, para insatisfação do prefeito Michael Bloomberg. “Será um dia triste para os EUA, se o projeto for abandonado por pressão dos opositores.” Em entrevista a uma emissora de rádio americana, o líder do grupo palestino Hamas, Mahmoud Al-Zahar, disse que os muçulmanos “devem construir onde quiserem” suas mesquitas, para que possam orar, assim como “judeus e cristãos”. Foi contestado pelo jornalista Thomas Friedman, que em artigo no “The New York Times” sugeriu que a mesquita seja erguida no Paquistão ou na Arábia Saudita, países que adotam a versão mais puritana do Islã e onde “não se pode nem pensar em construir uma igrejinha”.

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