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Desde os tempos mais remotos, foi necessária a elaboração de técnicas para qualquer criação artística. Da perspectiva clássica à máquina fotográfica, arte e tecnologia são duas faces da mesma moeda, mas hoje, por um mal-entendido, estão em conflito. É discrepante o fato de que exista uma separação categórica entre “arte e tecnologia” e “arte contemporânea”. Artemídia, arte eletrônica e arte digital são algumas das nomenclaturas que se popularizaram nos últimos 40 anos desde que a categoria da “arte e tecnologia” adentrou os circuitos das Bienais, ganhando um espaço separado, como se essa fosse uma filha bastarda. Exemplo é o caso da Bienal de São Paulo, que em 1964 chegou a um impasse diante da escultura cinética de Abraham Palatinik. “Cinecromático” era algo que estava entre a escultura e a pintura, mas trazia ali um maquinismo que fugia às categorias. Este incômodo, essa falsa falta de familiaridade criam uma necessidade de novas categorias artísticas. Para serem colocadas sob o guarda-chuva da arte, criam-se essas classificações como zonas de conforto.

Atualmente, São Paulo dá lu­gar a dois dos mais tradicionais festivais de arte e tecnologia do País: o Emoção Art.ficial 5.0 e o FILE. Os dois eventos tentam fazer um panorama desse tipo de arte numa espécie de bolha independente dos demais circuitos artísticos. Essa separação entre categorias produz filhos esquizofrênicos. São inúmeros os trabalhos que utilizam software art e que podem se encaixar nesse tipo de contradição. Um software não é nada mais que um conjunto de códigos que reproduzem uma função específica. É uma linguagem que pode ser usada para atingir um resultado estético, assim como a técnica da perspectiva – também um código – foi usada amplamente na arte renascentista e depois subvertida dentro da arte moderna. Mas, até que ponto, ao se limitar a processos de traduções do código digital, a arte com softwares não está recaindo precocemente em um maneirismo? Como podemos identificar uma linguagem artística dentro da linguagem dos softwares, em trabalhos que simplesmente se articulam como processos, deixando de lado a preocupação com resultados estéticos e com aquilo que é mais caro à arte: o questionamento aos contextos da produção artística dentro de um panorama mais global? Tudo bem, o FILE não traz em seu nome a palavra arte, é um festival de linguagens eletrônicas e em seu apanhado deixa isso claro. Mas então por que ainda tenta reproduzir os modos de exibição de exposições tradicionais de arte?


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