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PRIMEIRO VOTO
Angélica pretende se decidir depois de assistir aos programas de tevê

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Aos 20 anos, Angélica Estevão da Silva vai votar pela primeira vez para presidente no dia 3 de outubro. Apesar de trabalhar como doméstica a apenas 30 quilômetros do Palácio do Planalto, em Brasília, e de estar concluindo o curso fundamental, ela nem sequer consegue identificar os candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não entendo bem dessas coisas”, diz Angélica. “Como trabalho e estudo, tenho pouco tempo, mas ouvi falar na Dilma, pois minhas amigas já votaram nela”, completa, referindo-se à Dilma Rousseff, que jamais se candidatou a nenhum cargo eletivo. Em São Paulo, Priscila Bose, 35 anos, gerente de uma empresa de comércio exterior, acompanha de perto a movimentação dos presidenciáveis. “Em relação à Dilma, há a ressalva quanto às relações internacionais do governo Lula, por causa das alianças com países que desrespeitam os direitos básicos humanos”, afirma Priscila. “Minha dúvida sobre José Serra é a postura intransigente que ele teve na guerra fiscal entre os Estados, quando foi governador de São Paulo.” Quanto à Marina Silva, Priscila se preocupa com a imagem que a candidata do Partido Verde passaria do Brasil no Exterior e com o desempenho que teria diante do desafio de criar infraestrutura no País para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Angélica e Priscila integram o contingente de pelo menos 44% de eleitores que ainda não sabem em quem votar para presidente, revelado nas mais recentes pesquisas espontâneas, aquelas nas quais o entrevistado manifesta sua intenção de voto antes de consultar a relação dos candidatos. A diferença é que Angélica pretende se informar por meio de programas de televisão e Priscila está preparando uma planilha para definir seu voto a partir de uma pesquisa ampla. “Minha escolha será estatística”, diz Priscila. “Vou analisar os prós e os contra de cada um.” Dados processados pelo Datafolha e analisados pela socióloga Fátima Pacheco Jordão, do Instituto Patrícia Galvão, indicam que as mulheres, além de representarem a maior parte do eleitorado (51,8%), são também a maioria entre os eleitores que não definiram ou que não revelam o voto. Entre elas o índice de indecisos é de 59%, enquanto entre os homens cai para 39%. O levantamento indica ainda que, nesta fase da campanha, as eleitoras que menos definem o candidato espontaneamente moram nas regiões Norte e Centro-Oeste, nos Estados do Paraná e Rio de Janeiro, e no Distrito Federal.

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PLANILHA
Priscila vai listar os prós e os contras de cada um para definir seu voto

Mesmo entre aqueles que têm escolaridade superior, os segmentos femininos e masculinos se diferenciam. Quarenta e dois por cento das mulheres com formação superior integram o grupo dos indecisos, contra 25% dos homens. “Esses segmentos femininos são estratégicos para as eleições”, afirma Fátima. Na prática, significa que estão entre os alvos preferenciais dos candidatos, sobretudo a partir do dia 17, quando começa a campanha eleitoral no rádio e na tevê. A sete semanas do primeiro turno das eleições, os presidenciáveis começam a falar diretamente com o eleitor, em particular no programa eleitoral. As eleitoras, por sinal, são um grupo habituado a adquirir informações por meio da tevê. “Historicamente, as mulheres formam o maior contingente de audiência da televisão brasileira, inclusive dos telejornais”, lembra a socióloga.

O começo da campanha eleitoral no rádio e na tevê também marca o maior envolvimento do eleitor com o processo de escolha. A cada rodada de pesquisas eleitorais, o índice de indecisos apontado no levantamento espontâneo tende a se aproximar do contabilizado na pesquisa estimulada, aquela na qual os nomes dos candidatos são apresentados ao entrevistado. Na última pesquisa do Ibope, a espontânea apontou 44% de indecisos. Na estimulada, eles foram 12%. “Quanto menor a diferença, há menos chance de mudança, a menos que ocorra um desastre na campanha”, diz Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope. Pesquisas realizadas pelo instituto nas últimas décadas mostram que os segmentos do eleitorado brasileiro que mais abrigam indecisos são os que demoram mais para ter informações: as mulheres, as pessoas com mais de 50 anos e aqueles com menor instrução. “As mulheres também são as mais críticas, principalmente em relação às obras sociais do governo, pois são as que mais sentem seu impacto”, ressalta Márcia. “Em compensação, quando elas decidem, tendem menos a mudar.” Não por acaso, Lula encerrou sua campanha em 2002 mostrando um grupo de mulheres grávidas, vestidas de branco. Depois se descobriu que nem todas estavam grávidas. Mas a mensagem ao segmento feminino já havia ficado.

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