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INGENUIDADE
Naomi afirmou à corte desconhecer a origem das pedras

A top model Naomi Campbell é uma das modelos mais famosas do mundo. Seu reconhecimento, no entanto, não é fruto apenas da beleza estonteante que exibe em passarelas e editoriais de moda ao longo dos últimos 25 anos. A fama de Naomi também é fruto das mais variadas confusões nas quais a modelo se envolve mundo afora. Em geral, são pequenos entreveros com fotógrafos, adversárias de passarelas ou simples mortais em bares e boates das principais capitais do mundo. Com 40 anos recém-completados e às vésperas de abandonar o título de top model, Naomi agora está envolta em uma polêmica muito mais séria do que simples bebedeiras ou escândalos tão típicos do mundo da moda. Dessa vez, a diva negra está envolvida em uma sombria história que pode condenar um cruel criminoso de guerra e, também, mostrar que ela compactou, ainda que de forma indireta, com uma das maiores barbáries cometidas contra a humanidade nas últimas três décadas. E que continua a ser perpetrada em vários países africanos.

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DOR
Na década de 1990, os diamantes financiaram três guerras civis que deixaram quatro milhões de mortos

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O crime é a utilização de diamantes para o financiamento de guerras, os chamados “diamantes de sangue”. Já o criminoso que Naomi pode ajudar a condenar com seu depoimento é Charles Taylor, o ex-presidente da Libéria. Ele é acusado pela ONU de fomentar uma brutal guerra civil no país vizinho, Serra Leoa, que matou mais de 400 mil pessoas e deixou um terço dos 6,2 milhões de habitantes mutilado. A participação de Naomi nessa guerra é pequena, mas emblemática. Na terça-feira 7, ela esteve em Freetown, a depauperada capital liberiana, para prestar depoimento à corte especial que investiga Taylor montada pelas Nações Unidas. Os investigadores da ONU queriam saber apenas uma coisa de Naomi: se ela se lembrava de ter recebido uma pequena sacola de veludo negra contendo as três pedras, há 13 anos.

Naomi confirmou que recebeu o presente, mas disse que não entendeu do que se tratava. “Eram três pedras sujas e feias”, declarou a modelo à corte, afirmando, ainda, não conhecer na época o remetente do presente. Naquela ocasião, Naomi participava de um jantar na casa do líder negro Nelson Mandela em Pretória, capital da África do Sul. Entre os convidados estavam Taylor, a atriz Mia Farrow e a ex-agente da modelo Carole White. Mia e Carole também foram chamadas à depor e deram o tom caricato para o caso.

Elas acusaram a modelo de ter flertado com o ex-presidente liberiano e de que ela teria se vangloriado por ter recebido as pedras preciosas. Naomi negou as insinuações em nota na quinta-feira 12. Esse burburinho, no entanto, se tornou pequeno diante da história por trás do presente.

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VERSÃO
Mia Farrow afirma que Naomi sabia do que se tratavam as pedras

A revelação recente do luxo financiando o terror obrigou países e órgãos internacionais a tomar providências. O Processo Kimberley (leia quadro), instaurado em 2003, conseguiu frear a venda de diamantes de sangue no mercado internacional. Desde então, a exportação legal de diamantes em terras de conflito aumentou. Em 2002, Serra Leoa exportou US$ 26 milhões em diamantes legais. Em 2005, este valor subiu para US$ 142 milhões. Mas a extração ilegal de diamantes para financiamento de conflitos continua. Há registros deles no Zimbábue, em Angola e na Costa do Marfim.

Sobre Charles Taylor, o primeiro ex-chefe de Estado africano a ir a julgamento, pesam 11 acusações. Os depoimentos da modelo, que afirma ter dado as pedras a um amigo logo após tê-las recebido, Mia Farrow e Carole White poderão ser determinantes para a condenação do ex-presidente liberiano. Enquanto isso, aguardam alguma justiça os milhares de civis que carregam no corpo e na alma as cicatrizes de uma guerra cruel e recente. Para eles, a denominação de uma pedra ou um flerte ou não com seu algoz maior é o que menos interessa.

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