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LÁBIA
Maioline prometia retornos mensais de 5% a 7%

A polícia mineira, a Polícia Federal e a Interpol iniciaram esta semana uma caçada em portos, aeroportos, rodoviárias e pontos de fronteira seca em busca de Thales Emanuelle Maioline, um técnico em mineração de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, que conseguiu arrancar R$ 100 milhões de mais de duas mil pessoas que acreditaram que, por meio dele, poderiam ganhar dinheiro rápido e fácil. Maioline está desaparecido desde meados do mês passado, quando a pirâmide financeira criada por ele, nos mesmos moldes do esquema criminoso do americano Robert Madoff, começou a ruir. A polícia estima que Maioline tenha conseguido levar consigo algo próximo a R$ 50 milhões, mas não tem ideia de onde ele e o dinheiro possam estar. A última informação da polícia sobre o paradeiro deste que tem sido chamado de Madoff do Jequitinhonha é de que ele teria sido visto no Terminal Rodoviário Tietê, vestido como um simplório técnico de mineração, e não como o milionário investidor Maioline, aquele que conseguiu enganar milhares de investidores.

Maioline utilizou uma estratégia antiga para roubar suas vítimas. Aproveitou-se da ganância das pessoas que foi encontrando ao longo dos últimos três anos para convencê-las de que poderiam ter retornos financeiros muito superiores aos obtidos no mercado, sem no entanto correr nenhum risco. Maioline criou até uma empresa, a FIRV Consultoria e Administração de Recursos Financeiros, que, por meio de investimentos dos mais variados, teria condição de oferecer taxas de retorno mensais de 5% a 7% sobre cada real investido nela, com a garantia de não haver perdas do capital investido. Com a taxa de juros variando em torno dos 10% ao ano, Maioline oferecia retornos que poderiam chegar próximo a 85%. Não demorou para que ele encontrasse os incautos de que precisava pelo caminho.

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A operação, que inicialmente era pequena por problemas de fluxo de caixa, afinal de contas, ele precisava remunerar os investidores para que a farsa se mantivesse, começou a ganhar volume com a fama do negócio milagroso do gênio das finanças do Jequitinhonha. Com o dinheiro dos novos investidores, Maioline pagava as eventuais taxas de retorno dos aplicadores que desejavam fazer retiradas. “Mas a verdade é que a coisa parecia tão boa que 90% daqueles que aplicaram nunca sacaram os recursos”, diz o delegado Island Batista, chefe da Delegacia de Combate às Falsificações e Defraudações de Minas Gerais. “Ficavam para lá de satisfeitos com os extratos mensais que a empresa dele enviava.” Quando alguém decidia sacar o dinheiro, Maioline pagava todas as taxas prometidas.

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CAÇADORES
Os delegados Batista (à esq.) e Gusmão não têm ideia de onde Maioline está

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Se faltavam conhecimentos do universo financeiro para conseguir retornos tão atrativos no mundo real, sobrava a Maioline a capacidade de convencimento. Ao longo de cerca de três anos, mais de duas mil pessoas, a maior parte delas de Minas Gerais, fizeram depósitos que a polícia acredita terem chegado aos R$ 100 milhões. Os mais afoitos – e gananciosos – chegaram a refinanciar carros e vender casas. “É um crime tão manjado que não sei como ele se sustentou por tanto tempo”, diz Batista. Até agora, apenas 150 das cerca de duas mil vítimas apresentaram queixas contra o estelionatário. Seja por vergonha, seja por medo do Fisco, muita gente ainda permanece sem reclamar os lucros fabulosos que esperava.

Enquanto os recursos entravam em sua empresa, Maioline vivia como um Madoff brasileiro. As privações de Araçuaí ficaram para trás. Maioline rapidamente trocou o cenário árido do Jequitinhonha pelas belas praias do litoral catarinense, os hotéis de luxo de Punta del Este e o glamour das noites de Buenos Aires. Nas águas azuis do Balneário Camboriú, Maioline gostava de navegar com lanchas poderosas. Pelas ruas de Belo Horizonte, São Paulo ou Florianópolis, sempre estava a bordo de um dos dez carros de luxo que comprou nos últimos anos. A mudança drástica do padrão de vida começou a chamar a atenção. Mas Maioline foi mais rápido. Quando o primeiro cliente desconfiado com os rumores foi tentar sacar os R$ 3 milhões a que tinha direito, o Madoff brasileiro já havia sumido. “O perfil do estelionatário é aquele que resolve tudo na conversa. Não duvido que o Thales esteja esperando a poeira baixar para voltar à ativa”, diz o delegado Anselmo Gusmão, que também investiga o paradeiro do técnico em mineração. Assim como no caso americano, é bem provável que a ganância de seus clientes traga como retorno um belo prejuízo.

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