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O pesquisador irlandês John Curran teve acesso a mais de 70 cadernos com anotações pessoais da dama inglesa do suspense para escrever “Os Diários Secretos de Agatha Christie” (Leya). A publicação reproduz manuscritos da autora enquanto escrevia os seus romances e através deles investiga a sua vida e sua obra. Agatha Christie vendeu cerca de dois bilhões de livros, a maioria centrada no investigador Hercule Poirot. O volume traz dois contos inéditos protagonizados justamente por esse famoso personagem.

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Leia trecho da introdução do livro:

Vi os Cadernos de Agatha Christie pela primeira vez numa sexta-feira, 11 de novembro de 2005.

Mathew Prichard me convidou para passar o fim de semana em Greenway e conhecer o lugar antes que o Fundo Nacional iniciasse as longas restaurações necessárias para devolvê-lo à sua antiga glória. Ele foi me buscar na estação de trem de Newton Abbot, cena da peça teatral Personal Call [Ligação Pessoal], e percorremos de carro sob o lusco-fusco até o vilarejo de Galmpton, passando diante da escola onde Dama Agatha foi diretora e o chalé onde viveu seu amigo Robert Graves, a quem dedicou o livro Hora Zero. Subimos a estrada escura depois do vilarejo, mas a visão panorâmica do Rio Dart e do mar, vislumbrado tantos anos antes por Hercule Poirot a caminho da caça aos assassinos na Mansão Nasse, estava oculta para mim. Agora chovia bastante e a frase “uma noite escura e tempestuosa” era uma realidade e não mera figura de linguagem. Passamos pela entrada do albergue da juventude, refúgio dos estudantes estrangeiros em A Extravagância do Morto, e, finalmente, cruzamos os imponentes portões da Mansão Greenway, subindo a rampa de acesso até chegar à casa propriamente dita. As luzes estavam ligadas e havia uma lareira acesa na biblioteca, onde bebemos chá. Sentei-me na poltrona favorita de Agatha Christie e olhei, ávido, sem a menor cerimônia, para as estantes em volta – a coleção da Edição Greenway de seus romances, as versões traduzidas, as primeiras edições usadas e sem capa, os romances policiais de seus contemporâneos e os livros muito lidos durante a infância feliz em Ashfield, tão amorosamente lembrada em Portal do Destino.

Mathew me levou, então, em uma visita guiada pela casa – o ostensivo saguão de entrada com o gongo chinês (“O Espelho do Morto”), o baú com fecho de bronze (“O Mistério do Baú Espanhol”) e os impressionantes retratos de família (O Natal de Poirot); uma despretensiosa coleção de equipamentos de esporte no canto sob a escada tinha, imagino, um taco de golfe para canhotos (“Assassinato no Beco”) algumas raquetes de tênis (Hora Zero ou, menos morbidamente, Um Gato entre os Pombos) e um inocente bastão de críquete. Na sala de estar havia um grande piano (Um Passe de Mágica) e uma porta que se recusava a ficar aberta se não estivesse presa por um calço (Convite para um Homicídio); na mesinha de porcelana repousava o conjunto de imagens de Arlequim que inspiraram O Misterioso Mr. Quin. A janela por trás do piano foi de onde Hercule Poirot desceu lentamente após o chá da tarde em A Extravagância do Morto.

No andar de cima, depois de subir por uma tortuosa escada de madeira, estavam os banheiros ainda com os nomes das crianças refugiadas (Punição para a Inocência) da Segunda Guerra Mundial, escritos em etiquetas coladas nas prateleiras, enquanto a estante tinha os exemplares autografados de alguns amigos e autores da época (“Para Agatha, com emoção – Ngaio Marsh”)."