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Clique no player acima e assista ao trailer de "O Último Mestre do Ar"
 

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HERÓI
Noah Ringer encarna um garoto que controla os elementos naturais

A crítica americana memorizou com facilidade o nome do diretor indiano M. Night Shyamalan. Afinal, foi ele quem renovou o cinema de suspense com a obra-prima “O Sexto Sentido” e, na sequência, realizou outros grandes filmes, como “A Vila” e “Corpo Fechado”. Agora, depois de tê-lo alçado ao posto de um dos mais competentes cineastas de Hollywood, essa mesma crítica quer esquecê-lo a todo custo e tem sido impiedosa com suas mais recentes produções.

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FUGA
Aang (Noah Ringer) é perseguido pelos guerreiros vilões da Nação do Fogo

Na sequência da má recepção dada aos ótimos “A Dama na Água” e “Fim dos Tempos”, o ponto máximo da rejeição acontece com “O Último Mestre do Ar” (estreia na sexta-feira 20), uma mistura de fantasia e aventura que marca a entrada do cineasta no universo infantojuvenil. Das publicações voltadas para o mercado como “Variety” e “The Hollywood Reporter” aos jornais e revistas semanais, todos os importantes veículos dos EUA detonaram o filme. A revista “Time” chegou ao cúmulo de pedir a aposentadoria do cineasta com a frase: “Por favor, estúdios, se tiver mesmo que acontecer uma continuação dessa história, passem as rédeas para um profissional eficiente e não para um artista antes hipnotizador, mas que perdeu totalmente o rumo.”

Concebido para ter mais três episódios, se depender de seus resultados de bilheteria “O Último Mestre do Ar” já garantiu sua continuidade. A produção custou US$ 100 milhões, teve um custo adicional de US$ 10 milhões para ser transformado em 3D e já saiu do vermelho contando apenas com a plateia americana: seu faturamento beira atualmente os US$ 130 milhões. E isso após uma sucessão de infortúnios. O primeiro deles diz respeito ao título. Baseado no desenho animado “Avatar”, produzido e exibido pelo canal a cabo Nickelodeon, o filme não pôde utilizar esse nome nas peças promocionais porque o diretor James Cameron o registrou antes. A segunda propaganda negativa foi a movimentação dos fãs da série que acusaram o diretor de racista ao embranquecer os seus protagonistas – no desenho, que se passa na Ásia, os personagens são de origem mongólica e inuit (do Ártico). Esse detalhe, contudo, não faz a menor diferença para os não iniciados no universo da cultuada animação, situada numa época imprecisa no estilo da saga “O Senhor dos Anéis”.

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Segundo a trama embalada em noções pop do budismo e da filosofia oriental, o mundo está dividido em quatro regiões, cada qual orientada por um elemento natural: a Tribo da Água, o Reino da Terra, a Nação do Fogo e os Nômades do Ar. Essas comunidades viviam em harmonia no passado graças à ação de um avatar, espécie de “dalai-lama” que controla e domina os quatro elementos. Acontece que a Nação do Fogo decidiu dominar o mundo e exterminou toda a população dos Nômades do Ar porque era dessa etnia que nasceria o próximo pacificador. Antes da matança, o garoto escolhido fugiu e foi reencontrado, 100 anos depois, congelado dentro de uma esfera de gelo, por uma menina e seu irmão, da Tribo da Água. O nome do avatar é Aang, papel que coube ao estreante Noah Ringer, 12 anos, campeão mirim de tae kwon do na vida real e, por isso, muito bem em cena. O filme se resume a uma sucessão ininterrupta de efeitos especiais (redemoinhos de poeira, jatos de água, sopros de fogo), usados por Shyamalan com a elegância de grande criador de imagens.

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EFEITOS
O filme reúne uma sucessão de labaredas, redemoinhos e jatos de água: tudo digital

O defeito do blockbuster – e nisso seus detratores têm toda razão – é que os personagens não estão bem delineados. A premissa do genocídio de um povo – a referência aos tibetanos é óbvia – logo é abandonada e o que se tem é um jogo de gato e rato, com os representantes da Nação do Fogo sempre no encalço do pequeno avatar – o ator indiano Dev Patel (de “Quem Quer Ser um Milionário”) encarna um deles, o Príncipe Zuko. Como Shaymalan, o avatar é perseguido o tempo todo. Mas sempre se safa em fugas belíssimas. É desejar o mesmo para o cineasta.