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BREVE TEMPORADA
Cena da série “Na Forma da Lei”, que teve apenas oito episódios

Existe atualmente na Rede Globo um entra e sai de seriados na faixa de horário que vai das 22h30 até as 23h50. O último deles que entrou, não esquentou o lugar e já saiu após uma vida breve de apenas oito episódios e parcos 13 pontos de audiência foi “Na Forma da Lei” (foto), suspenso na terça-feira 3. Da mesma alta rotatividade recentemente fizeram parte, por exemplo, “Força-Tarefa”, “Separação!?” e “SOS Emergência”, comédia que era exibida aos domingos logo após o “Fantástico” numa fórmula já testada com sucesso no passado com o programa “Sai de Baixo”, protagonizado por Miguel Falabella e Marisa Orth – a mesma atriz que sucumbiu no “SOS”.

Segundo a Central Globo de Comunicação (CGCom), a “emissora não toma a audiência como único critério para esses seriados permanecerem no ar”, uma vez que a “intenção é oferecer uma diversidade de séries aos telespectadores”. A rigor, é de fato nesse horário que a emissora pode se dar ao luxo de criar uma espécie de faixa experimental, já que se verifica uma queda natural de público. É importante ressaltar, no entanto, que não é um ou outro seriado que participa desse constante entra e sai, mas, isso sim, uma infinidade deles – e, em meio aos programas natimortos, também os que têm boa acolhida na audiência, como foi o caso de “Força-Tarefa”, são retirados abruptamente do ar. “Como a grade da Rede Globo é muito engessada, esse é o único horário que sobra para funcionar como termômetro da aceitação da programação”, diz Almir Almas, professor de direção e mídias interativas da Universidade de São Paulo.

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Diversificar, especialmente na tevê aberta, é sem dúvida uma estratégia inteligente. Mas levá-la ao extremo pode ter um efeito contrário: provocar no telespectador uma crise de fidelidade, na medida em que ele está esperando o novo episódio do mesmo seriado que viu no dia ou na semana anteriores e é surpreendido pelo fim da atração. Como explicar, por exemplo, que “Na Forma da Lei” teve aqui vida tão curta, enquanto o seu modelo inspirador, a série americana “Law & Order”, permaneceu no ar cobrindo-se de sucesso ao longo de 20 anos nos EUA? De duas, uma: ou a Globo não está de fato acertando a mão junto com os seus telespectadores ou ela se propõe mesmo a fazer de si um laboratório de testes para chegar a um cardápio que lhe traga mais pontos no Ibope. A tática é arriscada e, a demonstrar isso, há o registro de outra rede de televisão que seguiu anteriormente pelo mesmo caminho. Acabou vendo-se prejudicada junto ao público e teve de recuar. Trata-se do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que a certa altura mexeu tanto na grade que, em vez de atrair mais telespectadores, os afastou. “Tanto a Rede Globo quanto qualquer outro canal de tevê comercial têm de se preocupar sim com a audiência, e não pode correr o risco de afastar o seu público. Deixar o telespectador órfão do programa que ele espera pode, mais cedo ou mais tarde, causar danos ao faturamento da emissora”, diz Almas. “Ainda que seja numa faixa de horário que facilita o teste, ficar mexendo na programação exige que a empresa televisiva tenha uma grande estrutura de entretenimento”, diz Carmen Petit, professora de comunicação da PUC do Rio de Janeiro.

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