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cerca de dez anos, o time dos novos-ricos – aqueles que construíram fortunas com muito trabalho e pouco glamour – era a chacota preferida das famílias tradicionais (algumas delas com nome ainda vistoso e menos dinheiro do que gostariam). Os emergentes, diziam, tinham gosto duvidoso, usavam roupas espalhafatosas, organizavam festas exageradas e faziam de tudo para aparecer na coluna social. O perfil de quem constrói a própria herança mudou. Entre os que ganham muito dinheiro, na casa dos bilhões, a regra é ser discreto, culto e não alardear conquistas enquanto elas não estiverem concretizadas, revela um levantamento da casa de leilões Sotheby’s, com sede em Nova York. A empresa realizou a pesquisa entre clientes de 35 países para compreender em detalhes os desejos do público que atende. E constatou que os novos bilionários já são responsáveis por 45% das fortunas do mundo. Não deve demorar para vários outros endinheirados ultrapassarem essa estatística. De acordo com um relatório divulgado pelo banco de investimentos Merrill Lynch, em abril, o número de milionários no Brasil cresceu 19,1% em 2007. Na Índia o índice chegou a 22,7% e na China a 20,3%.
"O novo-rico hoje é sofisticado, estuda, tem cultura e sabe dar valor às coisas, ao contrário do passado, quando não sabia investir em si mesmo e nem como gastar o dinheiro", diz Fabio Rossi, diretor-presidente da Sotheby’s no Brasil. Os bilionários da geração atual ergueram seus patrimônios especialmente nas áreas de informática, telecomunicações, petróleo, energia, serviços, varejo e construção. Eles vêm da Rússia, China, Índia, Brasil, Japão, México e Estados Unidos. Entre os exemplos estão os empresários que figuram nas famosas listas da revista Forbes, bíblia da economia: o americano Bill Gates, da Microsoft, o mexicano Carlos Slim, da América Móvil (que controla a Claro no Brasil), o russo Roman Abramovich, dono da equipe de futebol inglesa Chelsea (e acusado de negócios escusos), a família americana Walton, da rede de supermercados Wal-Mart, e a chinesa Zhang Lan, dona da rede de restaurantes South Beauty (de culinária típica do país). O brasileiro em destaque nesse seleto grupo é Eike Batista, que construiu sua fortuna de R$ 16 bilhões com empresas de mineração, energia, petróleo e logística.

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A discrição se tornou fundamental para os muito ricos dos anos 2000, diz Silvio Passarelli, diretor do MBA Gestão do Luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. "Pessoas da alta classe continuam querendo exclusividade, mas para o prazer pessoal. Ostentar não é mais valorizado. Mostrar o que conseguiu e como usufrui a própria fortuna em revistas é totalmente fora de moda." A pesquisa reflete a tendência. Com média de idade de 47 anos, os gostos dos novos bilionários são refinados. Eles jogam golfe (71%) e tênis (40%), consomem vinho e champanhe (54%) e vão a restaurantes sofisticados (83%). A freqüência em teatros, balés e óperas (71%) e o interesse por artes, tapetes orientais e antigüidades (81%) prova que apreciam e investem em cultura.
Os donos do dinheiro recente dão importância à ligação com a família (71%). Apenas 2% descrevem o próprio estilo de vida como luxuoso e 5% afirmam que se sentem parte da elite graças ao poder de compra para adquirir produtos de luxo. Eles evitam comportamentos negativos, como elitismo, esnobismo e materialismo. E consideram que ser rico é bom porque possibilita independência, conforto e segurança. A necessidade de segurança, inclusive, foi crucial para os bilionários se afastarem da idéia de ostentação. "Não há perspectivas de que a violência acabe. Por isso, quem tem dinheiro se expõe cada vez menos", afirma Passarelli.

Essa é também a primeira geração que sentiu no cotidiano estafante como é difícil ganhar dinheiro e fazer fortuna. Seus expoentes não esbanjam à toa. E, enquanto não fecham um negócio, guardam segredo. "Eles não querem perder oportunidades e boa parte opta por fazer investimentos sozinha ou, no máximo, com membros da família", diz Rossi, da Sotheby’s. A empresária chinesa Zhang Lan, por exemplo, abriu em sociedade com o filho Danny, um jovem e educado executivo de 28 anos, o Lan Club, que se tornou referência em alta gastronomia entre os restaurantes de Pequim. Eles gastaram US$ 30 milhões no lugar, projetado pelo designer Philippe Starck.O investimento em imóveis exemplifica o objetivo dos novos bilionários. Ao escolherem um lugar para morar ou trabalhar, se certificam de que a compra será um bom negócio a médio e longo prazo. De alguma maneira, o imóvel deve valorizar e gerar rentabilidade. Locais como Nova York, Londres e sul da França são e continuarão sendo tradicionais no mundo dos bilhões – venha do dinheiro novo ou não. Regiões que tragam status também mantêm a preferência. Entram aí mansões que pertenceram a astros do cinema na Califórnia ou um castelo no interior da Itália. Depois, os bilionários atuais garantem a mansão que tenha a ver com o estilo de vida que levam. Quem gosta de andar a cavalo, procura uma fazenda. Os que preferem velejar, uma casa próxima ao mar. Os jogadores de golfe vão para o campo, onde haverá espaço para seu hobby. Nesse quesito, não importa o país. Precisa oferecer o belo e estrutura para o lazer que desejam.

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O Brasil começa a entrar nessa rota. Os especialistas do setor imobiliário garantem que há bilionários estrangeiros à procura de ilhas em Angra dos Reis, mansões no litoral do Nordeste e fazendas produtivas no interior do País (que faz parte da idéia de rentabilidade para o futuro). "Não se trata de um boom. O crescimento é gradativo e constante", diz Rossi. Para Passarelli, São Paulo também está no foco dos novos e endinheirados investidores. "A cidade é cada vez mais apontada como a capital da América Latina em cultura, negócios e com imóveis sofisticados a preços acessíveis", afirma. Um apartamento no Complexo Cidade Jardim, em São Paulo, um dos maiores empreendimentos de luxo construídos no País, custa até R$ 16 milhões. Acessível, claro, para quem chegou ao primeiro bilhão.