Ver um artista transformar-se em palhaço não é tão engraçado como se pode imaginar – especialmente se esse artista é russo e não fala uma única palavra fora de seu idioma. O grandalhão Dimitri, 35 anos, um dos seis clowns da trupe do belíssimo Slava’s snowshow (no Citibank Hall de São Paulo e do Rio de Janeiro), manteve o semblante sisudo durante todo o tempo em que desenhava uma falsa barba em seu rosto – ele se valia de uma espuma embebida em pasta preta. Natural da cidade de Osh (no Quirquistão), Dimitri tinha como intérprete o amigo Artyom, 25 anos, que seguia o seu ritual testando diante do espelho o efeito da enorme boca branca. Artyom nasceu em Yaroslav, próximo a Moscou, e foi há quatro anos manipulador de marionetes antes de entrar para a trupe russa. Com seu cabelo espetado e pintado de "sangue elétrico", ele parece engolido por um macacão amarelo do Piu Piu. Menos quieto, o americano Jeff, 39 anos, quebra o gelo. Brinca com o seu cabelo "banana maluca" e mostra o sapato exagerado. "O número é 250", diz. Terminadas as máscaras, eles levantam desengonçados. E, como se tudo não passasse de uma pegadinha, começam a fazer o show de palhaçadas. "A vodca fica para depois", diz Jeff.