i57669.jpgO ministro das Cidades, Márcio Fortes, ainda sofre as seqüelas da tragédia familiar que viveu em 2004, quando ele perdeu um filho de 22 anos num acidente no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O carro que Marcel Luiz dirigia, um Astra, capotou numa curva depois de raspar a roda no meio-fio e colidir com um poste e duas árvores no canteiro central da avenida. Depois de ouvir relatos de médicos e especialistas, o ministro concluiu: a tragédia foi provocada pela ingestão de altas doses de antibióticos e antiinflamatórios pelo filho, que havia extraído quatro dentes na semana do acidente. Agora, durante a discussão da regulamentação da lei que restringe o consumo de bebida no trânsito pelo Denatran, órgão vinculado ao Ministério que comanda, Fortes antecipou à ISTOÉ que pretende incluir um dispositivo que imponha restrições a motoristas que tomam determinados medicamentos. "Além do problema do álcool, temos também que atacar o problema dos medicamentos. Muitas pessoas tomam medicamentos, mas nunca leram a bula. Antidepressivos e antiinflamatórios têm sempre uma restrição porque comprometem a capacidade de reação das pessoas, assim com o álcool", alerta.

A maneira como a restrição será imposta ainda está em fase de discussão, mas, segundo Fortes, o tema conta com a simpatia do presidente Lula, embora ele reconheça que seja tão polêmico quanto a lei de tolerância zero ao álcool no trânsito. "Temos discutido o assunto com Lula nos encontros no Palácio do Planalto", disse.

Levada a cabo, a medida será comemorada por especialistas. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a utilização de determinados medicamentos pode mesmo aumentar o risco de acidentes, uma vez que eles alteram os reflexos e a coordenação. Há remédios que atuam diretamente no sistema nervoso. É o caso dos antidepressivos e calmantes. "Esses medicamentos são contra-indicados para quem vai dirigir ou exercer atividade que exija concentração", diz o chefe do departamento de medicina ocupacional da Abramet, Dirceu Rodrigues Júnior.

Também requerem atenção especial ansiolíticos, antialérgicos e remédios para diabete. "O uso de ansiolíticos pode comprometer a capacidade de dirigir. O aumento do número de pacientes tratados com tais medicamentos, aliado ao abuso ou dependência de álcool e outras substâncias, eleva consideravelmente o risco de acidentes automobilísticos", alerta a doutora em psiquiatria pela FMUSP Doris Hupfeld Moreno na pesquisa Psicofármacos e Direção.

Os antialérgicos, por exemplo, estimulam a produção de melatonina, que induz o sono. Para quem toma esse tipo de medicamento, os médicos recomendam que dirijam apenas 12 horas após a ingestão do remédio. Para os motoristas que se submetem a tratamento de diabete, há um risco sério de sofrer uma hipoglicemia, que faz as pessoas perderem a atenção. Ultimamente, também tem contribuído para o aumento no número de acidentes a ingestão dos chamados moderadores de apetite, que levam na sua fórmula a anfetamina.
Sérgio Pardellas

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