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De todos os personagens trazidos a público pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, nenhum ocupa uma posição tão relevante na trama quanto o professor Hugo Chicaroni, que se apresenta como coordenador de desenvolvimento de projetos de um núcleo da Universidade de São Paulo. Ao ser filmado na companhia de Humberto Braz, assessor direto do banqueiro Daniel Dantas, Chicaroni se transformou na testemunha-chave do caso. O vídeo da PF seria a prova de que o dono do grupo Opportunity teria mandado oferecer suborno de US$ 1 milhão aos delegados Victor Hugo Ferreira e Protógenes Queiroz para que ele e seus familiares fossem excluídos das investigações. O grande enigma, no entanto, é que o professor já prestou dois depoimentos – e as versões são contraditórias. Chicaroni falou pela primeira vez na noite de 9 de julho, logo após o habeas-corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em favor do banqueiro. Naquela ocasião, quando estava preso na superintendência da PF em São Paulo, o professor foi ouvido pelos delegados e confirmou a oferta de suborno, feita em nome do Opportunity. Foi essa "confissão" que levou o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, a determinar a segunda prisão de Dantas, abrindo um confronto direto com o STF. Um mês depois, no dia 7 de agosto, Chicaroni voltou a falar. Desta vez, na presença do juiz De Sanctis, já como réu no processo por corrupção ativa. Sua nova versão é a de que não houve oferta de suborno – ao contrário, o dinheiro teria sido pedido pelos delegados. Protógenes, segundo o professor, seria seu amigo há sete anos. Num dos trechos, Chicaroni afirma: "Eu não dei um passo nesse caminho que não tenha sido orientado pelo delegado Protógenes Queiroz."

O EX-ADVOGADO Jean Aguiar atuou na primeira fase, sem procuração de Chicaroni

Os passos jurídicos de Chicaroni na Operação Satiagraha oscilaram como ao som de um bolero – dois pra lá, dois pra cá. Procurado por ISTOÉ, o professor falou rapidamente com a reportagem, pelo telefone. Disse que sua segunda versão é a verdadeira, mas não soube explicar por que deu o primeiro depoimento. Perguntado sobre eventuais pressões sofridas quando estava sob a custódia da PF, preferiu não responder. Da sua palavra pode-se definir tanto o destino do banqueiro Daniel Dantas como o do delegado Protógenes Queiroz. "Estou em busca da verdade", garante Chicaroni.

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Hoje, a verdade do professor pende mais para o lado do banqueirodo que do delegado. À ISTOÉ, o professor disse que foi "traído" e "usado" numa arapuca montada pelo ex-amigo Protógenes. "Até agora não consigo entender por que ele me envolveu nessa história", disse. Ao depor pela segunda vez, o professor revelou detalhes da sua relação com o delegado que conduziu a primeira fase de investigações da Satiagraha. Chicaroni disse que o conheceu há sete anos, quando treinou funcionários da PF no combate a crimes financeiros e à falsificação. Num episódio, Protógenes lhe pediu ajuda. Sua esposa havia sofrido um acidente automobilístico e o delegado pretendia apoio para obter uma perícia dos pneus no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A partir daí, nasceu a amizade, que teria se tornado estreita. Os dois jantavam com freqüência, em Brasília ou em São Paulo.

No tocante ao caso Opportunity, Chicaroni diz ter sido procurado por um desembargador aposentado, chamado Pedro Rota, para que tentasse obter informações sobre o caso. A primeira coisa que fez foi procurar Protógenes, que, dias depois, o apresentou ao delegado Victor Hugo, titular da investigação. Já naquele encontro, os dois teriam exigido, segundo afirma Chicaroni no segundo depoimento, a quantia de R$ 50 mil. E, em seguida, os dois delegados teriam ido numa "Mercedes-Benz preta" ao seu apartamento para pegar o dinheiro. A partir daí, Protógenes teria ligado diversas vezes a Chicaroni para conseguir um encontro entre alguém do Opportunity e o delegado Victor Hugo. No dia do jantar filmado pela PF, realizado no restaurante El Tranvia, em São Paulo, Protógenes teria até o alertado, com antecedência, sobre o pedido de US$ 1 milhão que seria feito a Humberto Braz. O delegado, por sua vez, tem evitado falar com a imprensa desde que passou a se dedicar a um curso na Academia de Polícia.

O ATUAL DEFENSOR Alberto Carlos Dias passou a disparar contra os delegados da PF

Se tudo isso não bastasse, o professor Chicaroni também passou a questionar a conduta do primeiro advogado que se apresentou em seu nome, chamado Jean Menezes de Aguiar, e que deu entrevistas às televisões na porta da Polícia Federal no momento em que ele estava preso. "Jamais dei uma procuração a ele", disse Chicaroni. Procurado por ISTOÉ, Aguiar disse que não havia mesmo procuração, porque não houve tempo para uma negociação formal. "Hugo é amigo do nosso escritório e, inclusive, nomeou meu sócio como sua testemunha na Polícia Federal", diz o advogado. Hoje, quem defende Chicaroni é o criminalista Alberto Carlos Dias. Outro furo na versão do professor – desta vez presente nos dois depoimentos – tem a ver com parte do dinheiro que ele mantinha em casa, referente a supostos honorários de consultoria pagos pela empresa Frango Forte. "Ele não tem qualquer relação conosco", disse à ISTOÉ Danilo Martins, responsável pelo marketing da empresa avícola. A ex-mulher do professor, Eleniza Sammarco, também o acusa de possuir três fazendas não declaradas em Mato Grosso e de não ter incluído os bens no processo de separação do casal.

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Em vários aspectos, a história do professor surpreende. Depoimentos contraditórios, conflitos entre as versões dos advogados e uma amizade de sete anos com o delegado que o prendeu são elementos incomuns em investigações da Polícia Federal. Uma hipótese é a de que, em seu segundo depoimento, o professor tenha combinado a sua defesa com os advogados do grupo Opportunity. Chicaroni nega. "Eu estava preso, incomunicável e nem sequer tenho os telefones deles", diz o professor. "O que eu quero é a verdade", insiste. As múltiplas versões de Chicaroni só tornam a história ainda mais nebulosa. Caberá ao juiz Fausto De Sanctis, que preferiu não falar sobre as contradições dos depoimentos, dissipar a cortina de fumaça do homem- bomba.
 

Se tudo isso não bastasse, o professor Chicaroni também passou a questionar a conduta do primeiro advogado que se apresentou em seu nome, chamado Jean Menezes de Aguiar, e que deu entrevistas às televisões na porta da Polícia Federal no momento em que ele estava preso. "Jamais dei uma procuração a ele", disse Chicaroni. Procurado por ISTOÉ, Aguiar disse que não havia mesmo procuração, porque não houve tempo para uma negociação formal. "Hugo é amigo do nosso escritório e, inclusive, nomeou meu sócio como sua testemunha na Polícia Federal", diz o advogado. Hoje, quem defende Chicaroni é o criminalista Alberto Carlos Dias. Outro furo na versão do professor – desta vez presente nos dois depoimentos – tem a ver com parte do dinheiro que ele mantinha em casa, referente a supostos honorários de consultoria pagos pela empresa Frango Forte. "Ele não tem qualquer relação conosco", disse à ISTOÉ Danilo Martins, responsável pelo marketing da empresa avícola. A ex-mulher do professor, Eleniza Sammarco, também o acusa de possuir três fazendas não declaradas em Mato Grosso e de não ter incluído os bens no processo de separação do casal.

Em vários aspectos, a história do professor surpreende. Depoimentos contraditórios, conflitos entre as versões dos advogados e uma amizade de sete anos com o delegado que o prendeu são elementos incomuns em investigações da Polícia Federal. Uma hipótese é a de que, em seu segundo depoimento, o professor tenha combinado a sua defesa com os advogados do grupo Opportunity. Chicaroni nega. "Eu estava preso, incomunicável e nem sequer tenho os telefones deles", diz o professor. "O que eu quero é a verdade", insiste. As múltiplas versões de Chicaroni só tornam a história ainda mais nebulosa. Caberá ao juiz Fausto De Sanctis, que preferiu não falar sobre as contradições dos depoimentos, dissipar a cortina de fumaça do homem- bomba.