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IMPUNIDADE
Mais de 120 baleias-piloto são expostas em porto nas Ilhas Faroe, na Dinamarca

Depois do fracasso nas negociações para acabar com a caça comercial de baleias, no fim de junho, os defensores dos direitos dos animais têm muito a comemorar. A Catalunha baniu as touradas na semana passada. Embora sob o argumento de que a prática é cruel para os touros – que são espetados até a morte na arena –, a proibição tem motivações muito mais ligadas à política e à economia locais. A região catalã é a mais rica da Espanha e seus moradores há muito lutam por sua autonomia. Em 2006, 5,5 milhões de eleitores aprovaram uma Constituição regional. A Corte Nacional rejeitou trechos do texto que falavam de uma “nação catalã”. Com a proibição, ativistas que defendem a independência da região argumentam que as touradas são uma tradição imposta pelos espanhóis.

O banimento é o primeiro na Espanha continental – em 1991, a prática foi vetada nas Ilhas Canárias. Ele vem em um momento de declínio para as touradas, tanto em termos econômicos como de público. Dependente de subsídios estatais, a “arte” – como é considerada por seus defensores – tem sofrido com os cortes no financiamento público, num período delicado da economia espanhola. O impacto foi particularmente sentido nas cidades menores, onde as administrações locais, endividadas, tiveram de cancelar as touradas. Desde 2007, esse tipo de evento foi reduzido em quase um terço.

Na Catalunha, o declínio é particularmente acentuado. Em Barcelona, principal cidade da região, funcionavam três arenas. Agora, existe apenas uma, La Monumental, que atrai pouco mais de 400 espectadores. Na capital do país, Madri, uma arena semelhante chega a receber 19 mil pessoas. “É um momento histórico para todos que trabalharam para promover os direitos dos animais numa sociedade moderna como a nossa”, declarou José Ramón Mallén, representante da fundação Equanimal. “Não se trata de política ou da identidade catalã, e sim de ética, de mostrar que simplesmente é errado assistir a um animal ser morto em público”, completou.

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ATITUDE
Acima, membro do Peta protesta contra o consumo de carne em Nova York no dia 27.
Abaixo, ativistas antitouradas em Madri
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Acabar com a matança de baleias, por outro lado, é bem mais complicado. Embora um embargo à caça comercial dos cetáceos vigore desde 1986, Noruega, Japão e Islândia continuam a praticá-la. Estima-se que cerca de 1,9 mil baleias, de várias espécies, sejam mortas anualmente em todo o planeta. Os países que continuam a caçá-las justificam o fato com base em uma convenção de 1946 que permite a caça para fins científicos – mesmo que estes países não tenham publicado nada relevante nos últimos anos. Na reunião da Comissão Internacional da Baleia, em junho, países-membros sugeriram um acordo que permitiria a matança de um número controlado de animais. Japoneses, noruegueses e islandeses recusaram a proposta, deixando a decisão em suspenso por mais um ano.

A manutenção da moratória foi considerada uma vitória pelos ativistas pró-baleias, que esperam que a pressão econômica e política mundial possa reverter o quadro. A mudança radical não seria a primeira a ocorrer por conta desse tipo de artifício. Nos últimos anos, a população de gorilas-das-montanhas da República Democrática do Congo vem aumentando com o fim da caça. Mesmo politicamente instável, o país africano tem nos gorilas sua principal atração turística – o que os protege. Por outro lado, durante a Copa do Mundo, ativistas do Peta, grupo de defesa dos animais, protestaram nus no centro de Johannesburgo, para chamar a atenção para o comércio de peles. Diferentemente das touradas, matar baleias e bichos peludos ainda é lucrativo. E contra isso o ativismo pouco pôde fazer até agora.

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