Achei, sem querer, uma rede na internet que não consta das listas de relacionamentos.
Ela não tem endereço de encontro. Nem formulário de inscrição. Paira no ar. Está por aí.
À menor provocação, pode baixar em sua tela como entidade de terreiro. Atende ao batuque de uma senha.

A senha no caso é “Francisco de Barros Júnior”. Trata-se de um escritor que publicava no começo do século passado suas caçadas, suas pescarias e, sobretudo, suas viagens pelo interior do Brasil. Isso quando o interior começava bem ali nos arredores da cidade de São Paulo – onde, por sinal, ele conheceu um camelô de perdizes, abatidas diariamente nas campinas do planalto paulistano para abastecer restaurantes. Consta que enriqueceu com esse comércio.

Barros Júnior tinha um programa no rádio patrocinado pela CBC, a fábrica brasileira de munição. Mas era, essencialmente, um amador. Gostava de natureza. Caçava por isso. E por isso cometia os exageros típicos da época em que todo brasileiro achava que tudo no Brasil era grande demais para qualquer coisa um dia acabar.

Ele atirava em pássaros miúdos só para exibir pontaria. Viajando à noite pelos rios do Pantanal e da Amazônia, acertava balas de calibre 22 entre os olhos de jacarés, às dúzias, para que os outros passageiros

do gaiola se divertissem com os saltos que o bicho dava ao afundar de costas, morto e perdido na água para sempre. Um dia, na Serra do Mar, derrubou um bugio para ganhar uma discussão sobre o que era aquilo em galho tão alto e distante.

O Brasil pode estar hoje despovoado dos animais que Barros Júnior ajudou a despachar para as listas de extinção. Mas ficou cheio de ambientalistas que só optaram por uma existência de pequenos salários e grandes frustrações porque, ainda meninos, exploraram a terra selvagem que Barros Júnior tinha o dom de instalar até nos menores apartamentos de quarto e sala do Rio de Janeiro.

Havia Barros Júnior até em versão infanto-juvenil, o da coleção “Três Escoteiros em Férias no…” Atrás desse “no” vinham sertões agora irrecuperáveis, como os do rio Tietê. Em qualquer caso, ao fechar suas páginas, dormia-se em plena corrida imobiliária das décadas de 1950 ou 1960, mais ou menos como o autor dormira nos confins da Amazônia, “pensando nestas maravilhas, sabendo-me naquele fim de mundo, rodeado pela floresta infinita…”

A tal “floresta infinita” parecia ainda tão próxima, costeando o País numa fronteira contínua, de sul a norte, enquanto o extremo oeste do território brasileiro era devastado pelas serras dos pioneiros e os tratores do governo. Mas era na selva que o Brasil crescia.

E as gerações embaladas pelos livros da série “Caçando e Pescando por Todo o Brasil” não se tornaram, como pretendiam, caçadores e pescadores como Barros Júnior. O País, ao crescer, encolhera demais para isso.

Quem leu Barros Júnior na hora certa virou aparentemente um adulto preocupado com a proteção do que sobrou. Tem saudades de um Brasil que não chegou a conhecer. Mas que seus filhos não podem sequer imaginar, porque os livros de Barros Júnior saíram de moda, junto com as caçadas e as pescarias.

É essa a confraria que vem à tona na internet cada vez que vai ao ar o nome de Francisco de Barros Júnior. O que ela quer é pouco. Está, faz tempo, em campanha pela reedição de seus livros. Mas, pelo visto, até seus e-mails nunca baixam na tela de um editor.