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SEM RUMO
Informações do Pentágono mostram que a guerra não está sendo
ganha e que o Taleban está mais forte do que em 2001

Foi somente depois do fim da Segunda Grande Guerra que o mundo ficou sabendo das principais atrocidades que haviam sido cometidas naqueles seis anos de conflito. Enquanto a guerra durou, ninguém tinha notícia dos campos de concentração organizados pela Alemanha nazista, dos extermínios em massa, nem da violência de batalhas remotas ou do resultado de bombardeios infernais sobre populações civis. Crimes secretos, porém, não são exclusividade daqueles tempos. O mundo acaba de ficar sabendo também que nas guerras de hoje, apesar de todo o grande circo da informação globalizada, matam-se inocentes e praticam-se assassinatos em massa em completo sigilo.

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No domingo 25, vieram à luz mais de 91 mil documentos secretos do Pentágono, publicados pelo site WikiLeaks. Notório desafeto dos Estados Unidos, este site foi o responsável pela divulgação, há dois anos, da cartilha americana com recomendações sobre como tratar os presos políticos de Guantánamo. Mais recentemente, foi por meio do WikiLeaks que e-mails da então candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, vieram a público. As publicações desta vez tiveram repercussão ainda mais negativa. Os documentos informaram ao mundo que centenas de civis no Afeganistão foram mortos sem conhecimento público e que as tropas de coalizão omitiram estas informações de seus dados oficiais. Também foram divulgados documentos mostrando planos secretos para exterminar líderes extremistas do Taleban e da Al-Qaeda. As tropas no Afeganistão mantinham até uma unidade de “caçadores” para “matar ou capturar” líderes do Taleban sem julgamento. Além disso, os papéis denunciaram o envolvimento do aliado Paquistão, além do Irã, no apoio aos insurgentes afegãos.

Os detalhes dos documentos revelam situações ainda mais desconfortáveis para os Estados Unidos. É descrita, por exemplo, uma fuga deseperada, em março de 2007, em que fuzileiros americanos, atingidos por carro-bomba, abriram fogo com armas automáticas, atingindo qualquer um que encontrassem no caminho. Dezenove civis desarmados foram mortos pelos soldados que fugiam em pânico e mais de 50 ficaram feridos. Outra prova de imprudência se deu quando soldados americanos atiraram primeiro para advertir e depois para ferir um civil. Ao ser atendido pelos médicos, constatou-se que o civil era um deficiente auditivo, que não poderia ter ouvido a advertência dos soldados.

Mas se atentados contra adultos inocentes já chocam, quando crianças são envolvidas, tornam-se ainda mais deploráveis. Em 10 de março de 2008, sete crianças morreram na ação americana que lançou cinco foguetes em um complexo residencial. No mesmo ano, soldados franceses da coalizão bombardearam um ônibus cheio de crianças, matando oito. Uma ronda similar feita pelas tropas americanas matou 15 passageiros de outro ônibus. Houve ainda um aparente ataque de vingança, em 2009, que acabou exterminando uma vila afegã durante uma festa de casamento, matando inclusive uma mulher grávida. E nada disso foi divulgado ou incluído na contabilidade oficial de baixas da guerra.

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SUMÁRIA
Documentos mostram que soldados americanos executaram afegãos sem julgamento

O vazamento das informações ocorre em um momento delicado do governo de Barack Obama, que trava uma batalha no Congresso para a revisão da estratégia no conflito, prevista para dezembro. Desde que Obama assumiu o poder, os índices de violência no Afeganistão aumentaram, o montante de armamentos dobrou, os gastos com a guerra subiram e a opinião pública está cada vez mais insatisfeita. Vale lembrar que em 1971 o vazamento dos “Papéis do Pentágono”, em que detalhes secretos sobre a Guerra do Vietnã vieram a público, mudou de maneira drástica a forma como os americanos encaravam o conflito.

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