A engenharia genética do PSDB sonha em construir um animal perfeito. Seria um cavalo puro-sangue, metade José Serra, metade Aécio Neves. Como os dois são bem avaliados e governam os Estados mais populosos do País, São Paulo e Minas Gerais, bastaria somar os votos de ambos e faturar um Grande Prêmio Brasil presidencial em 2010. O problema é que dessa inseminação artificial deverá nascer uma mula. Mais precisamente, uma mula empacada, em que cada pata obedeceria a comandos cerebrais distintos, deixando o bicho inerte, no meio da rua.

O exemplo concreto da dissolução tucana é a eleição municipal da capital paulista, onde a aliança PSDBDEM, que governou o Brasil de 1994 a 2002, rachou. Embora os candidatos sejam Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, quem move as peças do tabuleiro são os governadores Aécio Neves e José Serra. Resultado: o PT nada de braçada, com a liderança folgada de Marta Suplicy. Esse desastre na disputa mais importante do ano fez soar os alarmes no ninho tucano. Agora, os caciques do PSDB querem reunir seus presidenciáveis na tal chapa “puro-sangue”. Quem estivesse na frente em 2010 seria o candidato. O outro, seu vice.

A idéia parece simples, mas esbarra numa questão básica: o que o PSDB representa hoje? Qual é a agenda? No livro de memórias A arte da política, escrito após seus oito anos em Brasília, o próprio Fernando Henrique Cardoso já indagava se a experiência tucana no poder não seria lembrada apenas como um breve interregno na história do País. Talvez FHC imaginasse que o PSDB tivesse nascido para cumprir uma missão histórica. Criado em plena desordem econômica de 1988, como uma costela de Adão do PMDB, o partido veio ao mundo para exterminar a inflação e retirar o País da Idade da Pedra. Feito o trabalho, restaram apenas projetos pessoais aqui ou acolá, como os de Serra ou Aécio, que poderiam estar abrigados em qualquer outro partido.

Claramente, não há hoje uma idéia aglutinadora em torno do PSDB, que é o único partido social-democrata do mundo sem base trabalhista. Do ponto de vista ideológico, não se sabe se os tucanos têm orgulho ou vergonha das privatizações. No campo da ética ou do financiamento de campanhas, não há grande diferença em relação aos outros partidos. Sobrou apenas uma máquina partidária ainda forte, disputada por um mineiro que vende um insosso choque de gestão e um paulista que não disse a que veio. Com a mula tucana na pista, a disputa de 2010 já se desenha como páreo n fácil para a aliança PT-PMDB.