I Bienal Internacional de Grafite de Belo Horizonte/ Serraria Souza Pinto, BH/ 30/8 a 7/9
Setenta e oito, setenta e nove: precursores do grafiti em São Paulo/ Centro Cultural São Paulo, SP/ até 14/9

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O artista plástico Rui Santana reuniu, esta semana, 12artistas de diversas partes do Brasil e do mundo para grafitar. "Oferecemos suportes tradicionais, como telas e madeirites, mas também carcaças de carros, mobiliário doméstico e sucatas, porque a obra de um grafiteiro pode começar na tela e terminar numa sucata de carro", diz Santana, que sedia em Belo Horizonte a I Bienal Internacional de Grafite (BIG-BH). Todas as obras serão criadas especialmente para o evento. Ponto a favor. Afinal, o grafite é uma arte contextual, que se faz no calor da hora e do contexto da cidade. O fato de a bienal ser instalada em uma antiga serraria – e não em espaço expositivo convencional – seria outro ponto positivo, caso o imóvel não fosse tombado. Sem intervenções diretas sobre a edificação, a montagem ganha um caráter decorativo. Por conta disso, faz-se fundamental o módulo "ateliês abertos", em que 300 grafiteiros produzem intervenções no espaço urbano.

O intuito do evento é contribuir para o reconhecimento do grafite como arte contemporânea. Sem novidade. Mesmo que a cena do grafite em Belo Horizonte ainda não tenha sido absorvida pelos mercados de arte e publicidade, São Paulo e Rio de Janeiro vivem uma realidade internacional. Enquanto os paulistanos OsGêmeos e Nunca estampam a fachada da Tate Modern, em Londres, o carioca Marinho faz sua segunda individual na Galeria Mercedes Viegas, a paulistana Nina vende todas as obras na galeria Leme e Tinho tem solo na Rojo Artspace, em São Paulo, e na O Contemporary, em Londres. Diante desse quadro, a função de uma bienal fora do eixo Rio-SP-Londres é preservar a vibração e a contundência dessa arte, que de nova não tem nada.

Novo é dizer que os precursores do grafite não são grafiteiros, mas poetas visuais como Augusto e Haroldo de Campos, e videoartistas como Tadeu Jungle e Lenora de Barros. A tese é da exposição Setenta e oito, setenta e nove: precursores do graffiti em São Paulo, que aponta as relações da cultura urbana com livros de artista, arte postal, arte xerox, pinturas-objetos, poemas-objetos manipuláveis e tantas obras experimentais realizadas desde o começo dos anos 1980 por criadores como Hudinilson Jr., Julio Plaza, etc. A partir dessa exposição – que também tem registros da célebre Rainha do Frango Assado, de Alex Vallauri -, visualizamos a relação embrionária que une a arte de rua às artes "cultas". Nessa associação inusitada, talvez esteja presente a tão reivindicada relação do grafite com a arte contemporânea.

 

 

México redesenhado
EL NORTE DEL SUR/
Galeria Baró Cruz, SP/ até 20/9

Dentro de toda a diversidade de poéticas e de suportes utilizados pelos 11 artistas mexicanos que integram a mostra El norte del sur – entre os quais está o belga Francis Alÿs, residente no México -, o desenho parece ser o caminho predominante. Com curadoria de Michel Blancsubé, realizada especialmente para a galeria Baró Cruz, a mostra apresenta fotografias, vídeos, esculturas, bordados e colagens que podem ser lidos como desenhos. No estilete minucioso de Mónica Espinosa na obra Infinita tristeza e nas fitas colantes da série Selected ghosts, de Carlos Amorales (foto), apresenta-se a atitude inconfundível do desenho. Até mesmo nas cartolinas pretas dos álbuns de retratos de Marco Roundtree desenham-se constelações. Nesse desígnio de estrelas, de moedas que ganham forma de luas eclipsadas, de caveiras e de corpos humanos fundidos com animais insinua-se a presença soberana da paisagem cultural mexicana.

Crítica

Selvagens portáteis sem tensão
por JULIANA MONACHESI
DANIEL ACOSTA – ESTIMADO SELVAGEM/
Casa Triângulo, SP/ até 6/9

a idéia de uma "natureza domesticada", presente em diversas pesquisas artísticas na atualidade, contrasta brutalmente com fenômenos naturais que tomam de assalto o planeta com maior regularidade do que nossa mente iluminista gostaria de acreditar. exemplos como o furacão Katrina, que atingiu a cidade de Nova orleans em agosto de 2005, ou o tsunami que varreu milhares de quilômetros do litoral de países banhados pelo oceano Índico em dezembro de 2004 se repetem de tempos em tempos fazendo lembrar que a natureza não pode ser domada.

daniel acosta, artista de trajetória impecável, vinha levando a cabo – sobretudo nos trabalhos da série Paisagens portáteis – uma reflexão estética sobre a natureza, entendida não como um universo separado da sociedade, mas, antes, como o próprio contexto socioambiental em que vivemos. agora, nas obras da série Estimado selvagem, o artista apresenta uma postura acrítica acerca da natureza, desperdiçando o potencial da arte de problematizar a vida contemporânea. seus "animais selvagens", apropriados de uma estamparia kitsch, endossam a visão datada de um mundo catalogado e controlado pela aposta na supremacia da razão. Nesse sentido, são apaziguadores e em tudo contrários à crua realidade de um planeta em convulsão.

enganou-se quem fez uma analogia entre Estimado selvagem, de acosta, e Presa predador, de lia Chaia, exposta em mostra individual recente da artista na Galeria Vermelho. enquanto os animais do primeiro são impecavelmente construídos e não se distanciam da matriz da estampa bem acabada de um guardachuva zoomórfico, os animais de lia tomam por referência uma antiga imagem romana, que é recriada de maneira rudimentar. Na série fotográfica Amigos animais, apresentada na mesma exposição, o que está em jogo é uma artificialidade que encontra rebatimentos em obras de anne Cartault d’olive, Marcos Chaves, alice shintani e oscar oiwa, para citar alguns exemplos. No tratamento que estes artistas dão ao universo "lúdico" do animal estereotipado existe conflito, crítica e tensão, elementos ausentes na série de daniel acosta.

Juliana Monachesi é critica de arte e jornalista

 

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