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ESTRATÉGIA Meirelles gostaria de ser o palanque de Dilma Rousseff em Goiás

Quando deixou para trás a bemsucedida trajetória profissional que o levou à presidência mundial do Banco de Boston, Henrique Meirelles tinha um sonho: investir numa carreira política que, no ápice, poderia levá-lo ao Palácio do Planalto. Deu o primeiro passo ao se eleger, em 2002, deputado federal pelo PSDB de Goiás, com 182 mil votos. Porém, convidado para a presidência do Banco Central, foi forçado a adiar o projeto. À frente do BC há mais de seis anos, um recorde de permanência, Meirelles, no momento, usa a principal arma ao seu alcance – a taxa básica de juros – para atenuar os efeitos da crise financeira. Mas, nos bastidores, articula sua candidatura ao governo de Goiás em 2010. Nessa tarefa, conta com um cabo eleitoral extremado: o presidente da Valec, José Francisco das Neves, o dr. Juquinha, responsável pela expansão da malha ferroviária no País. Doutor Juquinha não tem dúvida: "Ele será candidato a governador e ninguém conseguirá derrotá-lo."

Ao entrar em campo para pedir os 3,8 milhões de votos do povo de sua terra – nasceu em Anápolis em agosto de 1945 -, Meirelles terá de oferecer ideias que ultrapassem os limites da política econômica. Na opinião do dr. Juquinha, a principal bandeira será o desenvolvimento de Goiás e a criação de postos de trabalho. Nas palestras que fez ao percorrer o Estado no fim do ano passado, Meirelles, de fato, expôs uma espécie de mantra a favor da geração de emprego e do aumento do padrão de vida da população. "Além disso, ele tem notória capacidade administrativa e assumirá compromisso com a reorganização das finanças estaduais", conta dr. Juquinha, que, em 2002, abriu mão da reeleição para deputado federal e pôs suas bases eleitorais à disposição do amigo. Ele também ressalta que Meirelles, graças ao bom trânsito no mercado financeiro, vai atrair investimentos estrangeiros para Goiás, como nenhum outro governante.

A única coisa que ainda faz Meirelles vacilar é o risco de voltar a sofrer com denúncias em relação a seu patrimônio, que obrigaram o presidente Lula a conceder a ele status de ministro para que pudesse dispor de foro especial em caso de processos judiciais. No dia

31 de agosto, em sua última festa de aniversário, na sua casa em Brasília, Meirelles chegou a comentar com amigos próximos sua preocupação. No entanto, ele ainda tem esperança de promover reformas constitucionais, no seu entender, necessárias para o desenvolvimento do País. Foi com este objetivo, liderar as reformas na Câmara, que ele decidiu candidatar-se a deputado. Poucos amigos, até agora, ouviram as ponderações de Meirelles sobre política.

"Ele tem notória capacidade administrativa e assumirá compromisso com a reorganização das finanças estaduais"

José Francisco das Neves, empresário e amigo de Meirelles

Um deles é o economista Paulo Guedes, presente à festa familiar, e outro é Ovídio de Angelis, ex-secretário de Indústria e Comércio de Goiás.

Por mais que Meirelles negue a candidatura ("Sou um homem de foco e meu foco hoje é o combate à crise"), ele já conta com a simpatia de políticos locais, como o diretor-geral da Assembleia Legislativa, Kennedy Trindade, e o presidente da Casa, Helder Valin. O que se discute hoje é o arranjo político que será formado para dar sustentação à sua campanha. Desta vez, o caminho não será o PSDB que precisa de palanque em Goiás para a sucessão presidencial e terá candidato ao governo estadual: o senador Marconi Perillo. Depois de dizer à ISTOÉ que admira o trabalho de Meirelles, Perillo não perdeu a oportunidade de atacá-lo: "Ele não é muito presente no Estado, em razão de suas atividades em Brasília. E é preciso saber se ele vai se interessar por uma atuação política efetiva."

Se Meirelles até agora não assumiu a candidatura é exatamente porque não é fácil selar as composições partidárias no Estado, com um PMDB controlado por seu adversário, Íris Resende. O dr. Juquinha acha que um caminho seria a legenda do PR, outros falam no PTB, mas não está nos planos de Meirelles ter outro adversário de peso, além do tucano Perillo. No momento, segundo amigos, o presidente do BC gostaria de contar com o apoio do presidente Lula ao seu projeto político e poderia ser o líder do palanque de Dilma Rousseff em Goiás. A avaliação é de que, como candidato de Lula, seria imbatível e aceitaria até mesmo uma filiação ao PT. Com essa manobra teria munição suficiente para convencer o prefeito Iris a se candidatar ao Senado. Meirelles só não pode é perder tempo demais nas tratativas. No Palácio do Planalto comenta-se que o cavalo está passando encilhado e, pela exposição que ganhou no governo, chegou a hora de realizar seu sonho político. Dificilmente surgirá melhor oportunidade. Os adversários concordam.

"Meirelles é um forte candidato, mas tem de tomar providências e entrar logo no jogo. Se atuar só nos bastidores, outros candidatos vão tomar seu espaço no Estado", adverte o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).