chamada.jpg
PRAZER DE DIRIGIR
Silvio Coelho e seu Porsche Boxster conversível de R$ 255 mil

Circular de carro pela avenida Europa, na cidade de São Paulo, requer atenção do motorista. Nos seus 1.400 metros de asfalto estão concentradas as mais exclusivas revendas e importadoras de carros do País. Não são poucos os motoristas que quase param no meio da movimentada via para apreciar filas de Lamborghinis, Bentleys e Ferraris. Desde 2007, até um Pagani Zonda de R$ 4 milhões enfeitava a avenida em meio a outros bólidos à espera de um comprador. Com 659 cavalos e visual de carro de corrida, era uma venda difícil. Mas em março deste ano ele foi arrematado. Um sinal de que 2010 seria um ano diferente para o setor, que hoje vive um boom. Até recentemente, marcas como as inglesas Aston Martin, que abre sua primeira loja no País no próximo mês, e Bentley, que chegou no início do ano, nem sequer cogitavam a possibilidade de estar no Brasil. Agora, projetam bons negócios até o final de 2010.

Elas não apostam no escuro. Um levantamento da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) confirma o bom momento. Nos primeiros seis meses do ano, 2.325 carros com preço entre R$ 200 mil e R$ 400 mil foram vendidos, uma alta de 335% em relação ao mesmo perío­do do ano anterior. Já as vendas de carros com valor acima de R$ 400 mil ficaram em 277 unidades, alta de 230% (leia quadro). “Acho que 2010 será o melhor ano da Ferrari no Brasil desde que entramos no mercado, em 1996”, afirma Viviane Polzim, gerente da Via Itália, importadora da marca no País. Foram 16 carros vendidos só no primeiro semestre.

São muitas as razões que explicam o sucesso de carros que têm preço equivalente ao de um luxuoso apartamento. O real mais forte e estável diante do dólar é apontado como uma delas. “Estamos há 18 meses com a cotação do dólar em cerca de R$ 1,75 e isso abre uma janela para o comprador ocasional”, afirma Koichiru Matsuo, porta-voz da Abeiva. Carros com valores entre R$ 200 mil e R$ 400 mil são especialmente vulneráveis às flutuações de moeda, uma vez que os compradores são ricos, mas não são milionários.

img.jpg

 

O boom também é explicado pelo enriquecimento das classes A e B e as facilidades de crédito que têm empurrado muitos dos compradores de carros com valores entre R$ 70 mil e R$ 80 mil para modelos na faixa dos R$ 150 mil a R$ 200 mil. É aí que está o crescimento mais vigoroso em vendas. “Os carros têm todas as amenidades e, de quebra, dão prestígio por serem mais exclusivos”, explica Ricardo Almeida, gerente da marca Audi nas revendas Eurobike, de São Paulo. Até o final do ano a marca volta a importar o Audi A8, sedã de luxo que deve chegar com preço acima dos R$ 500 mil e dará início às vendas do RS5, que chega no próximo mês por R$ 430 mil com 450 cavalos. “Estamos vendo aumento de vendas até na linha de carros exóticos da marca, como R8”, diz Almeida.

Os milionários, compradores de carros com valor acima de R$ 800 mil, não pautam suas decisões em função da moeda nem do crédito. São aquisições que não têm explicação racional. “Ela é 100% emocional”, diz Sílvio Passarelli, diretor do mestrado em gestão do luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “O sujeito compra uma experiência”, concorda Hideki Oshiro, diretor da Platinuss, empresa que vendeu o Pagani Zonda de R$ 4 milhões e ainda tem em seu catálogo modelos como o Spyker, que tem preço inicial de R$ 1,1 milhão, além de outros Pagani que chegam a R$ 8,8 milhões. “É como o cara que compra um iate. Ele não compra para ir de um lugar para o outro, ele compra para se divertir”, explica Oshiro. Muitos proprietários nem desfilam com seus bólidos pelas ruas. Eles dirigem os carros apenas em pistas particulares no interior do País.

Com a economia crescendo, as perspectivas são boas para os modelos exclusivos. “Apesar das altas taxas sobre produtos como esses, o Brasil virou nicho para a indústria do luxo, que precisa crescer em mercados que ainda não foram esgotados, como o brasileiro”, diz Passarelli, da Faap. Por isso, quem é fã desses carrões, nem se incomoda com a fortuna que desembolsa para tê-lo na garagem. “O prazer de dirigir uma máquina dessas com a capota abaixada não tem preço”, resume Silvio Coelho, 50 anos, diretor comercial de uma imobiliária que já teve um Audi TT, esportivo da marca alemã, e hoje circula com um Porsche Boxster, conversível, cujo preço inicial é de R$ 255 mil.

img1.jpg

CORREÇÃO – Koichiru Matsuo é porta-voz e não presidente da ABEIVA