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Muitos repórteres estiveram lá. Agora mais do que nunca. 

Tornou-se quase moda mandar correspondentes aos festivais e encontros religiosos da Índia. Mas, desde a primeira vez que Arthur Veríssimo, o repórter Gonzo de estimação da “Trip”, carimbou seu passaporte rumo ao atrapalhado e calorento aeroporto de Délhi, no quase remoto ano de 1994, não restou nenhuma dúvida de que aquele era o seu lugar. Não importa o nível de dificuldade, nunca menor do que sete numa escala de zero a dez. Nem o grau do calor insuportável, o calibre das roubadas, inevitáveis diga-se, o naipe das diarreias, as tosses, as carraspanas dos guardas com seus sarrafos de madeira, as pimentas cabulosas, os hotéis esquisitos… Tudo isso, que já fez muita gente boa e experimentada voltar para casa na primeira chance, é música para o nosso querido repórter excepcional. Arthur se transforma em parte da umidade, seus poros se abrem, uma febre de 40 graus vira mantra para meditações, pimenta de qualquer bitola é refresco, dá um jeito de cinturar para se esquivar da cacetada do guardinha, fica amigo do “Saddhu Fumo de Corda”, aquele que enrola o próprio pênis num cabo de vassoura, e  brother do outro que está com o braço esquerdo levantado há décadas. Olhando as fotos dos seus
frequentes reencontros com essas duas figuras, pode-se ver claramente: o Saddhu Rexona (como o apelidamos desde o primeiro encontro) exulta em rever seu camarada brasileiro. A alegria é tão natural que talvez fosse suficiente para que, por um segundo, se esquecesse de sua promessa permanente e  baixasse o graveto em que se transformou seu braço esquerdo para abraçar o tatuado e esfuziante mano Veríssimo.

Não há travesti sagrado, divindade mirim, bovino endeusado, chofer de praça, saddhu de qualquer cepa, piloto de elefante, filhote de Hanuman ou qualquer outra figura do infinito panteão alucinado da Índia que resista a esse verdadeiro magneto de gente diferente, maluca, esquisita, genial, heterodoxa, pouco convencional, exótica, mágica ou xarope. Ímã de gente que não aceita encaixes e padrões. 

Relendo as inúmeras aventuras/reportagens/fuçantinas que publicamos sobre as 17 vezes em que nosso camarada esteve nos domínios de Gandhi, assistindo ao seu  DVD e agora no livro que lançará em breve, você poderá comprovar.

Ali, na terra do Ganesh, Arthur é uma vaca sagrada. Não tem para mais ninguém.