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Ele nasceu nos Estados Unidos, foi criado na Suíça, é um saxofonista de jazz reconhecido, desenha barcos, veleja e é o monarca há mais tempo no poder, com 62 anos de reinado. Só isso já tornaria atraente o perfil do rei Bhumibol Adulyadej, da Tailândia. Mas agora, sabe-se também, ele é o monarca mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 35 bilhões, segundo ranking recém-divulgado pela revista Forbes. Com maior transparência do Escritório de Propriedade da Coroa (CPB), que administra a fortuna do rei e de sua família, a publicação conseguiu dimensionar melhor as posses reais. Se ele fosse um país, seria a 75ª economia do mundo, ao lado da Tunísia, e à frente de mais de uma centena de nações.

O rei Bhumibol é muito mais rico que o segundo colocado, o xeque Califa bin Zayed Al Nahyan (US$ 23 bilhões). O sultão de Brunei Haji Hassanal Bolkiah (US$ 20 bilhões), durante anos tido como o dono da maior fortuna real, ficou em quarto lugar. A rainha Elizabeth, da Inglaterra, aparece na 12ª colocação, com US$ 650 milhões.

Por intermédio do CPB, Bhumibol é sócio majoritário de grandes empresas, como a Siam Cement, o maior conglomerado industrial e petroquímico tailandês, a Christiani & Nielsen, uma gigante da construção, o Siam Commercial Bank, um dos mais importantes bancos do país, entre vários outros empreendimentos na área de telecomunicações, veículos e hotéis. O CPB investe também fortemente em imóveis. Possui 54 quilômetros quadrados em propriedades em Bangcoc, nas áreas mais valorizadas, e outros 160 quilômetros quadrados nas demais províncias. Além disso, o rei Bhumibol tem vários investimentos independentes do CPB. Ele é, pessoalmente, o maior acionista da ThaiInsurance Company and Sammakorn, entre outras. A família real goza de prestígio junto ao povo e Bhumibol, 80 anos, é considerado quase uma divindade por seus súditos – lá, ofender o rei é crime. Ao longo de seu reinado, a Tailândia passou por 17 golpes de Estado e teve quase 30 primeiros-ministros.

Caçula do príncipe Mahildol Adulyadej, Bhumibol nasceu em Boston. Na Suíça estudou francês, inglês, latim e grego. Cursava ciências na Universidade de Lausanne quando o seu irmão Ananda Mahidol foi misteriosamente assassinado, em 1946, após 11 anos de reinado. Ele levou um tiro na cabeça, no seu quarto, em circunstâncias nunca esclarecidas. Na Europa, Bhumibol cultivava hobbies como fotografia, carros e jazz, em um estilo de vida mais para bon vivant do que para um budista dhammaraja (rei virtuoso) da dinastia Chakri. Mas teve de mudar de trajetória para assumir a coroa. Antes de voltar definitivamente para seu país, estudou ciências políticas e direito.

“Quando ele assumiu o trono, a monarquia tailandesa estava no precipício, enfraquecida, e podia ter facilmente desaparecido no pós-guerra”, escreveu Paul Handley, que viveu 13 anos como jornalista na Tailândia, na biografia The king never smiles (O rei nunca sorri). No livro, lançado em 2006, ele retrata o rei como um monarca antidemocrático que se alia a militares corruptos e grandes empresários para manter sua dinastia. “Mas, entre seu povo, ele conseguiu se tornar um soberano de enorme sagacidade e virtude, capaz de resolver os maiores problemas e disputas.” Os tailandeses são conhecidos por seus sorrisos gentis e o rei nunca é visto sorrindo, está sempre impassível, o que é encarado pelos súditos como um sacrifício. A obra foi banida da Tailândia.

Casado, pai de quatro filhos, o rei Bhumibol conheceu a rainha Sirikit em Paris, para onde costumava viajar enquanto estudava na Suíça. Eles se casaram em 1950. Dois anos antes, ele sofreu um acidente de carro na Suíça e perdeu a visão do olho direito. Isso não o impediu de ser um bom velejador na juventude, vencedor de competições na Ásia. Como seu pai, que era engenheiro naval, ele gosta de desenhar barcos. Fã de jazz – compõe no saxofone alto –, aos 32 anos ingressou na Academia de Música e Artes Dramáticas de Viena, na Áustria. Apresentava-se na rádio Or Sor e, em suas viagens, tocou com músicos famosos, como Benny Goodman. Hoje, o rei Bhumibol leva uma vida discreta e gosta de escrever e fazer traduções – além de ser amado e admirado por seus súditos.