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CUSTO ALTO A cardiologia pediátrica exige tecnologia de ponta e médicos altamente especializados

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Descobrir que o filho é portador de uma doença cardíaca grave apavora pais de todas as classes sociais. Mas o fardo é especialmente pesado para quem não tem meios para financiar um tratamento de qualidade. Desde 1996, o projeto Pró-Criança Cardíaca, no Rio de Janeiro, oferece atendimento a essas famílias que não podem esperar na longa fila do Sistema Único de Saúde (SUS).

O programa começou pequeno, no consultório particular da cardiologista pediátrica Rosa Célia Pimentel, uma alagoana que virou carioca aos 5 anos de idade, quando se mudou para a Cidade Maravilhosa. O projeto, que teve financiamento do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e recebe ajuda de empresários, será consolidado no hospital Pró-Criança, um prédio de cinco andares que começou a ser construído neste ano e deverá ser inaugurado em março de 2011. Artistas como Roberto Carlos, Caetano Veloso e Maria Bethânia também estão aderindo à causa, revertendo para ela a renda de shows beneficentes.

O envolvimento de tantos setores da sociedade se deve, em grande parte, à luta e credibilidade da idealizadora do projeto, Rosa Célia. Nos últimos anos, cerca de cinco serviços de cardiologia pediátrica fecharam as portas nos centros de saúde pública do Rio. E no Hospital Pró-Cardíaco, com o qual a médica ainda mantém parceria, não há planos de expandir o setor de pediatria.

A especialidade exige tecnologia de ponta, cirurgiões altamente capacitados e não oferece grande retorno financeiro, segundo a médica. Era lançar-se no projeto ou deixar de atender à demanda por tratamento, que crescia todo mês. ?Não podia dormir vendo as crianças passando mal no consultório sem resolver o problema?, diz Rosa Célia.

Para sustentar o programa e a construção do hospital, que custará cerca de R$ 45 milhões, organiza eventos e pede doações incansavelmente.

Quem é assistido pelo projeto não arca com os custos do tratamento e ganha atendimento odontológico, cesta básica, roupas e brinquedos. Mais de 800 crianças já foram operadas pela equipe do Pró-Criança Cardíaca e chega a 15 mil o número de atendidos pelo programa. Toda semana, cerca de 40 delas vão à sede do projeto, onde trabalham nove funcionários e 12 voluntários.

O centro é um alívio para a família de Heitor, 4 anos, que precisou ser operado no ano passado por conta de um problema cardíaco congênito, descoberto em sua primeira ida ao pediatra. ?Procuramos o projeto pela ausência de custos, mas, em primeiro lugar, pela qualidade do tratamento?, ressalta o pai de Heitor, o militar da Marinha Rogério de Almeida Silva, 42 anos.

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DEDICAÇÃO
Rosa Célia Pimentel, idealizadora: do orfanato para a faculdade de medicina

O caso do menino lembra um pouco o passado de Rosa Célia. Nascida em Alagoas, ela se mudou para o Rio de Janeiro com a família ainda pequena, mas logo depois foi deixada num orfanato porque os pais não tinham condições de cuidar dos 11 filhos. Até os 18 anos, ela permaneceu num abrigo. Para fazer a faculdade de medicina, morou de favor na casa de conhecidos e sempre trabalhou para se manter. Fez cursos em Londres e nos Estados Unidos, graças às bolsas de estudo obtidas por seu ótimo desempenho acadêmico. ?Eu sempre tive responsabilidade, desde pequena?, orgulha-se.

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ASSISTÊNCIA
Quem é atendido pelo projeto, ganha tratamento odontológico, cesta básica, roupas e brinquedos

Para a dona de casa Márcia Figueira da Silva, 36 anos, a médica é ?um anjo de saias?. Ela cuida de sua filha Emilli, 12 anos, que há dois anos se submeteu a uma cirurgia na válvula mitral, mas ainda não está completamente curada. ?Desde que cheguei aqui, nunca fiquei desamparada?, diz. O pequeno José Antônio Matta, de 1 ano e 6 meses, frequenta o Pró-Criança Cardíaca desde os primeiros meses de vida. Ele nasceu com uma cardiopatia chamada comunicação interatrial e também com uma válvula pulmonar obstruída.

O menino sente falta de ar com frequência e terá de ser operado no próximo ano. ?Aqui eu fico mais tranquila. Sei que ele está recebendo um ótimo tratamento?, diz a mãe, a carioca Kelly Cristina dos Santos, 28 anos, que está desempregada.

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CONFIANÇA
Rogério de Almeida com seu filho Heitor, de 4 anos: segurança na qualidade do tratamento

Segundo a presidente do departamento de cardiologia pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ieda Jatene, os hospitais do Brasil que têm equipe e estrutura hospitalar para atender as crianças com problemas cardíacos ainda não conseguem suprir toda a demanda. ?A criança não é um adulto pequeno. Precisa de um tratamento específico, com drogas e condutas totalmente diferentes?, justifica.

Assim como o Rio de Janeiro tem o Pró-Criança Cardíaca, o Hospital do Coração de São Paulo (HCor) oferece tratamento gratuito para crianças com problemas cardíacos há cerca de um ano. E capitais como Fortaleza e Florianópolis também contam com serviços de ponta, conta a médica. ?Por enquanto, ainda durmo preocupada. Só vou ficar feliz quando o mundo estiver mais harmonizado e as pessoas não receberem tratamentos tão desiguais?, afirma Rosa Célia.

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