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CURRÍCULO
Aos 12 anos, Colt furtou pela primeira vez. Com 17, roubou um avião e pilotou como se estivesse em um game

Garoto é criado por mãe alcoólatra em um trailer caindo aos pedaços e permanentemente estacionado na ilha de Camano, perto da chuvosa Seattle (EUA). Aos 12 anos, rouba um telefone celular e é detido pela primeira vez. Depois de acumular uma ficha corrida com mais de cem crimes – como invasões de casas de veraneio e furtos de toda espécie –, foge de uma instituição para recuperação de menores aos 17 anos, rouba um avião e vira celebridade. Fica sumido por um tempo, embarca em uma aeronave furtada, voa 1.600 quilômetros e faz um pouso forçado nas Bahamas. Após perambular pelo paraíso caribenho por uma semana, é descoberto e caçado pela polícia local e pelo FBI. Preso, descalço e com a cabeça baixa, é deportado para os EUA. Em breve, em um cinema perto de você.

Fruto da união conturbada entre um operário da construção civil e uma eterna desempregada, Colton Harris-Moore nasceu em um lar rachado. Seu pai foi preso mais de 12 vezes por dirigir embriagado. Antes do segundo aniversário do filho, partiu para nunca mais voltar. Aos quarenta e poucos anos, a mãe de Colt, como é chamado por todos, afundou ainda mais na bebida. As coisas melhoraram quando ela se casou pela terceira vez, agora com um leiteiro e ex-soldado do Exército americano. Seu filho tinha 4 anos e criou fortes laços com o padrasto, mas a harmonia foi efêmera. Viciado em heroína, o homem foi expulso de casa.

Isolado por conta das bebedeiras e consequentes ressacas de sua mãe, Colt construiu seu próprio mundo. Assistia aos filmes de James Bond constantemente e desenvolveu uma verdadeira obsessão por aviões. Seu quarto era decorado com pôsteres que descolava no aeroporto perto de casa. Aos 8 anos, ganhou o presente mais caro de sua vida: uma bicicleta de US$ 300 comprada por sua mãe. Ironicamente, ela foi o estopim de seu primeiro problema com a lei. Ao ver o garoto pobre sobre a bike, um policial acusou-o de roubo. Uma humilhação que jamais seria esquecida. Pouco tempo depois, seu ex-padrasto morreu ao sofrer uma overdose. A escola era um fardo e sair de casa passou a ser sinônimo de encrenca.

As coisas degringolaram de vez quando Colt tinha 12 anos. Ao ver um celular esquecido sobre o capô de um caminhão de mudanças, não pensou duas vezes e cometeu seu primeiro roubo. Pequenos delitos acumularam-se rapidamente, muitas vezes em parceria com um de seus únicos amigos, o também problemático Harley Davidson Ironwing. Com ele, especializou-se em invadir casas de veraneio de milionários de Seattle para desfrutar do que nunca teve em seu lar. Como na história infantil “Cachinhos Dourados”, tomava banhos quentes, navegava na internet e devorava potes de sorvete. Na saída, levava iPods, peças de roupa e o que mais chamasse a sua atenção. Segundo as autoridades americanas, o total de seus furtos nessas ações é estimado em US$ 1,5 milhão.

Procurado pela polícia, passou a viver escondido nas matas perto do terreno onde o trailer de sua mãe está estacionado. Mais de uma vez, foi perseguido e conseguiu escapar graças à familiaridade que tem com a região. Em uma de suas buscas, os policiais acharam uma tenda camuflada no meio dos arbustos. Dentro dela, encontraram parte dos bens furtados – entre eles uma câmera com a foto mais famosa de Colt, que ilustra esta reportagem.

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ÍDOLO
O fã-clube de Colt no Facebook tem mais de 85 mil membros.
Camisetas com seu rosto viraram febre
 

Em fevereiro de 2007, aos 16 anos, o rapaz foi pego em flagrante e enviado a uma unidade correcional de segurança máxima. Como nunca se envolveu com álcool ou drogas, foi capaz de impressionar uma junta de psicólogos e acabou sendo transferido para outra instituição, muito menos severa, de onde fugiu. Em uma de suas ações, foi filmado pelas câmeras de segurança de uma loja, sem camisa e sapatos – imagens que inspiraram o apelido de “Bandido Descalço”.

Mas o golpe decisivo na transformação de Colt em celebridade aconteceu quando ele roubou seu primeiro avião. Sem nunca ter entrado em uma aeronave ou ter feito aulas de pilotagem, roubou um pequeno Cessna 182 na noite de 11 de novembro de 2008 e realizou um sonho que alimentava desde pequeno. Depois de passar horas treinando em simuladores caseiros e de devorar inúmeros manuais de operação – sua leitura preferida –, Colt voou 400 quilômetros e fez um pouso acidentado em uma reserva indígena.

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CRIME E CASTIGO
O primeiro avião roubado por Colt, em 2008.
Abaixo, o jovem depois de sua prisão nas Bahamas
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Ao ler uma reportagem sobre o episódio, um jornalista americano de 26 anos teve a ideia de abrir uma comunidade de fãs de Colt no Facebook. “A coisa começou como uma brincadeira, éramos apenas sete membros durante um bom tempo”, disse Zack Sestak à revista americana “Rolling Stone” em maio. Ele conta que um dia abriu a página e descobriu que mais de mil pessoas haviam entrado para o fã-clube – hoje são 85 mil. De repente, o garoto desajustado e enclausurado em seu mundo particular ganhou amigos de todo tipo – de garotas apaixonadas a possíveis parceiros no crime. Entre as muitas mensagens deixadas no mural da comunidade, frases como “Voe, Colton, voe!” alimentam o mito. Camisetas com seu rosto estampado logo ganharam as ruas.

Após uma temporada de sumiço, Colt foi preso na madrugada do domingo 11 nas Bahamas. Em uma sequência digna de cinema, ele roubou carros e um pequeno avião, com os quais cruzou os EUA de oeste a leste e chegou às Bahamas. Sua aventura acabou sete dias depois com uma perseguição em terra e mar, com direito a troca de tiros. Minutos antes de ser algemado, apontou uma pistola contra a própria cabeça e ameaçou cometer suicídio.

A prisão de Colton Harris-Moore está longe de ser o último capítulo de sua história. Sua mãe contratou dois advogados: um para defendê-lo e outro para representá-lo junto aos estúdios de Hollywood. Há rumores de que a Fox está perto de fechar o negócio. Resta saber se seu quase suicídio no momento da captura é um indício de que ele não consiga lidar com o que virá a seguir. De acordo com a mídia americana, uma pena de quatro a 12 anos o aguarda.