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O divórcio é contagioso? Para tentar responder a essa pergunta, o editor Edson Franco foi à noite paulistana e conversa com gente separada. Confira o vídeo

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Em “Maridos e Esposas”, um dos mais famosos filmes do diretor Woody Allen, os protagonistas Gaby e Judy recebem estarrecidos a notícia de que seus melhores amigos, o casal Jack e Sally, estão se separando. A partir daí, passam a analisar a própria relação e descobrem que ela está desgastada. Os quatro personagens saem, então, em busca de experiências com novos parceiros. Quase duas décadas depois do lançamento do filme, a vida comprova a arte. Pesquisadores de três universidades dos Estados Unidos (Harvard, Brown e da Califórnia) demonstraram que sim, o divórcio é contagioso.

Como um vírus, ele atinge outros relacionamentos com até dois graus de separação. Ou seja, afeta não só os amigos (com 147% de chance de serem contaminados), mas também os amigos dos amigos (33%). Esta é a grande novidade do estudo. Até então havia dados demonstrando apenas a influência em um só grau de ligação. Segundo a pesquisa, a contaminação independe da distância geográfica e atinge igualmente homens e mulheres, mas tem a força reduzida se o exemplo parte de alguém de classe social diferente ou se o casal tem filhos pequenos. Se forem adultos, já não pesam mais tanto na decisão dos pais.

A principal explicação é que as outras pessoas casadas próximas começam a perceber que descasar pode não ser tão complicado assim. Além disso, se sentem menos estigmatizadas para tomar a mesma decisão. “O exemplo do outro exterioriza a crise no casamento e leva o casal a discutir a relação”, afirma o psiquiatra e terapeuta Moisés Groisman, para quem a tese não se aplica quando há verdadeira harmonia conjugal. No Brasil, quem sente os sintomas do vírus ganhou na semana passada um empurrãozinho extra para tomar coragem e por um fim no relacionamento. Foi promulgado o Projeto de Emenda Constitucional do divórcio, que reduz a burocracia ao acabar com a necessidade de espera de até dois anos para oficializar o rompimento. O divórcio deixa de ser um processo judicial e acaba também a necessidade de se estabelecer culpados da separação, reduzindo o desgaste emocional.

O estudo americano, que acompanhou cinco mil pessoas por 32 anos (entre 1971 e 2003), se baseia na teoria de que comportamentos e emoções se espalham dentro de um grupo assim como as doenças. “É assim mesmo que a sociedade muda, por contágio”, diz o psicanalista e psiquiatra Jorge Forbes. “Também há contágio de casamento e de ter filhos.” A blogueira Isabela Barros, de 32 anos, viu quatro amigas próximas se separarem depois que terminou seu casamento, em 2008. Em pelo menos um dos casos, ela tem certeza de que sua decisão levou uma das amigas a tomar coragem para deixar o marido também. “Ela viu que eu consegui tocar a minha vida e me reconstruí. Isso deu forças para ela aceitar que o casamento dela tinha acabado e que ela poderia ficar muito bem sozinha”, acredita. “Quando veem alguém próximo se separando, as pessoas passam a refletir sobre suas vidas, analisam se o relacionamento está funcionando ou não.”

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A pesquisa americana demonstra ainda um outro fenômeno de influência social: o efeito em cadeia. Uma pessoa que acompanha uma história de divórcio pode não desenvolver os sintomas, mas serve de transmissor do vírus e influencia uma terceira a fazê-lo. O contágio também se dá de outras formas. Quem presencia um processo muito árduo de separação, tende a desistir de mudar de vida por mais insuportável que ela seja – e o inverso também é verdadeiro. Ou seja, o segredo para um casamento duradouro pode estar no contato com relacionamentos saudáveis.