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FESTA RUBRA
No vestiário, banho de cerveja e visitantes ilustres como Rafael Nadal (no detalhe)

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Esta foi uma Copa do Mundo surpreendente. Não só pela vitória inédita da Espanha, pelas eliminações precoces da Itália e da França ou pelo estilo militar trazido pelo Brasil para o Mundial. A grande surpresa ocorreu, de fato, fora dos gramados. Nem o mais otimista dos sul-africanos poderia imaginar que o maior evento esportivo do mundo transcorreria sem grandes incidentes, numa tranquilidade rara de se ver em um país acostumado com índices de criminalidade recorde e com um nível de organização que fez o presidente da Fifa, Joseph Blatter, dar nota nove para a África do Sul em sua avaliação após o Mundial. Apesar de pequenos problemas, o Mundial da África do Sul foi um sucesso. O resultado até inesperado oferece ao próximo anfitrião algumas lições sobre o que fazer – e o que evitar – na organização do evento, mas também elevou o nível de pressão sobre o Brasil, que a apenas quatro anos do primeiro jogo ainda nem começou as importantes obras que precisam ser feitas para, ao menos, igualar o feito dos africanos.

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Desde 2004, quando a África do Sul foi escolhida para sediar a 19ª edição da Copa, a comunidade internacional vinha dando mostras de um ceticismo implacável. Muitos duvidavam da capacidade do país de colocar de pé as vastas exigências em infraestrutura para o evento. Estradas teriam que ser reformadas, estádios construídos e aeroportos modernizados. Além disso, a nação, ainda extremamente desigual, precisava encontrar uma saída para que os altos índices de violência não atingissem as centenas de milhares de turistas estrangeiros que viriam para o Mundial. Naquele momento, a tarefa de fato parecia hercúlea e, nos anos seguintes, a Fifa chegou a cogitar internamente a possibilidade de transferir a Copa do Mundo para outro país por temor que a África do Sul não conseguisse dar conta do trabalho. A realidade sul-africana de meia década atrás não é muito diferente da brasileira hoje, e a desconfiança mudou de continente, pairando agora sobre o maior país da América do Sul. Na segunda-feira 12, na última entrevista coletiva da Fifa neste Mundial, o secretário geral da entidade, Jérôme Valcke, afirmou, mais uma vez, estar preocupado com o andamento das coisas no Brasil. “Há muita coisa a ser feita em todos os setores: estádios, estradas, aeroportos e também na capacidade hoteleira, tudo está atrasado”, afirmou o segundo homem na hierarquia da Fifa. A entidade ainda não fez ameaças, veladas ou não, sobre a substituição do Brasil como sede do Mundial de 2014, mas já deu indicações claras de que a pressão será tão grande ou maior que a sofrida pelos africanos. No dia seguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com veemência: “Não somos um bando de idiotas. Sabemos fazer as coisas e definir nossas prioridades”, afirmou.

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Assim como ocorre no Brasil hoje, os dirigentes de Pretória afirmaram na época da escolha do país como sede da Copa que não colocariam dinheiro público em estádios e em outras obras ligadas diretamente ao Mundial. Então, garantiram que os investimentos seriam concentrados em obras de infraestrutura e que caberia à iniciativa privada fazer os outros desembolsos. A promessa, a mesma que Brasília faz hoje, ficou nisso, na promessa. Apenas o governo federal da África do Sul despejou mais de US$ 2,1 bilhões na construção ou reforma dos dez estádios que receberam os 64 jogos desta Copa do Mundo. As províncias e cidades-sede gastaram outras centenas de milhões de dólares para deixar os campos de futebol instalados em pequenos estádios, escolas e universidades dentro dos padrões exigidos pela Fifa para serem os centros de treinamento das seleções. Como sempre ocorre no Brasil, na África do Sul os orçamentos também estouraram. Só na construção das arenas eles cresceram mais de 100% em relação às previsões iniciais.

Por enquanto o governo brasileiro garante que não injetará recursos públicos na construção ou reforma dos estádios. Tanto o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quanto o governador do Estado, Alberto Goldman, garantem que abrem mão da abertura do Mundial se for necessário abrir o cofre estatal (leia entrevista na pág. 6). A mesma promessa havia sido feita nos Jogos Pan-Americanos do Rio. No fim, o governo federal injetou bilhões de reais para evitar um fracasso.

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Ao todo o governo da África do Sul investiu mais de US$ 5 bilhões no Mundial. Boa parte desses recursos foi destinada às obras de infraestrutura. O dinheiro, aliado à vontade política por conta da dimensão do evento, fez com que o país modernizasse seus principais aeroportos, melhorasse de forma significativa suas rodovias e grandes avenidas nas principais cidades, além de ampliar a capacidade das telecomunicações do país. É bem verdade que não se pode comparar também com o que a Alemanha apresentou no Mundial de 2006, mas a distância entre a realidade de um país e outro é muito maior do que um continente inteiro. A distância que separa as realidades brasileira e sul-africana, no entanto, é bem menor que o oceano que as divide. Apesar das dimensões continentais brasileiras, os dois países são muito mais iguais do que diferentes, tanto sob o aspecto econômico como social (confira o quadro). O Brasil tem quatro anos para conseguir repetir o feito dos sul-africanos. Na verdade, por causa da sua força econômica, espera-se mais da Copa de 2014 do que da de 2010.


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