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SENSÍVEL
A pele é o maior órgão do corpo e influi diretamente em nossas escolhas

Você já teve uma con­versa dura? Lidou com uma pessoa áspera? Ficou feliz ao ser recebido de forma calorosa em um encontro com os amigos? Se as respostas foram afirmativas, saiba que a ciência já demonstrou que há muita verdade por trás dessas e de outras metáforas que usamos no dia a dia. Uma série de experimentos realizada por pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, revelou como o sentido do toque pode mexer com o comportamento humano. Assim que entram em contato com a pele, diferentes texturas, formas, temperaturas e pesos interferem decisivamente em nossos julgamentos e decisões.

“Os antigos conceitos que separam mentes e corpos estão caindo por terra”, diz o pesquisador John A. Bargh, um dos autores do estudo divulgado na semana passada pela revista especializada “Science”. “Nossas cabeças estão profunda e organicamente ligadas a tudo que se passa no resto do corpo”, afirma Bargh. Um dos seis experimentos realizados pela equipe do cientista envolvia dois recipientes com bebidas: uma xícara de café quente e um copo com refrigerante estupidamente gelado. Depois de segurá-los por alguns instantes, os voluntários foram abordados por pesquisadores. Bingo: quem ficou com as xícaras aquecidas foi mais atencioso e receptivo com seu interlocutor, mesmo sem ter ingerido o líquido. Outra experiência mostrou como a superfície na qual estamos sentados – dura ou confortável – altera nossa disposição durante negociações (leia o quadro abaixo).

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Segundo os pesquisadores, seus testes confirmam algo que as mães podem observar enquanto crianças pequenas vão descobrindo o mundo à sua volta. De fato, a diferença entre uma superfície áspera e outra macia, por exemplo, é uma das primeiras que assimilamos. Nada mais natural, portanto, que o cérebro humano aprenda a comparar e ligar a experiência sensorial com a social. Isso explica por que respondemos de formas diferentes depois que a pele – o maior órgão de nossos corpos, diga-se – entra em contato com superfícies diversas. Segundo o estudo, esses conceitos puramente físicos seriam fundamentais no processo de desenvolvimento de ideias mais abstratas sobre pessoas e relacionamentos – daí a naturalidade com que dizemos que alguém tem o coração mole, por exemplo. Afinal, nem um cardiologista interpretaria a frase literalmente.