Meio ambiente

A cartada brasileira
O País avança em sua política ambiental, surpreende o mundo e chega de cabeça erguida à Conferência da ONU

Hugo Marques e Tatiana de Mello 

 

O Brasil desembarcou bem municiado, na semana passada, na 14ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, que se realiza na Polônia e se estenderá até o domingo 14. Trata-se de uma das mais importantes reuniões de cúpula para definir os rumos da política mundial contra o aquecimento global, definindo regras econômicas e ambientais que substituirão o Protocolo de Kyoto, que vigora há 11 anos. O cartão de visita brasileiro não poderia ser melhor: a apresentação de nosso primeiro Plano de Política Nacional de Mudanças Climáticas. Trocando em miúdos, o governo ousou estabelecer drásticas metas numéricas para brecar o desmatamento, e a principal delas é a redução do desmate da Amazônia em 72% até 2017 – com isso deixarão de ser emitidos 4,8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na natureza. "É três vezes mais do que tudo que os países desenvolvidos, juntos, se comprometeram a reduzir com o Protocolo de Kyoto", diz o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Para atingir tais objetivos, o governo terá de derrubar a taxa de desmatamento, já no ano que vem, para 9,2 mil quilômetros quadrados, bem menos que os 11,9 mil quilômetros quadrados com os quais, muito provavelmente, fechará 2008. "O Brasil era refratário à adoção de metas. Agora resolveu fixá-las e esse é um mérito do Ministério do Meio Ambiente. Para a comunidade internacional, essa é uma grande notícia", disse à ISTOÉ Rachel Bidermann, advogada e coordenadora do Programa de Mudanças Climáticas da Fundação Getulio Vargas. O plano inclui ainda o zoneamento ecológico-econômico da cana, prevendo aumento de 85% na área plantada para a produção de etanol e a preservação de áreas da Amazônia e do Pantanal, onde não haverá usinas. "Teremos crédito nos financiamentos para duplicar a produção de etanol", diz Minc.
O documento que o governo levou à Polônia foi elaborado pela Comissão Interministerial para a Mudança Global do Clima, criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro do ano passado. Também foram consultadas diversas entidades ambientalistas, que fizeram algumas ressalvas: desde o início houve quem considerasse esse primeiro plano tímido demais e sugerisse metas mais radicais. O Greenpeace, por exemplo. Essa ONG propõe a promoção de economia de energia em 20%, contra os 8% sugeridos pelo governo. Com o fim da consulta pública, pouco foi acrescido ao texto original, segundo Sérgio Leitão, coordenador de campanhas do Greenpeace. "Não há novidades, apenas se requentaram políticas já em curso. É como um tapinha nas costas", disse ele à ISTOÉ. O ministro Minc admite que as metas estipuladas podem mesmo ser tímidas, e já avisou o próprio governo que nada impede que elas sejam revistas: "Faremos reavaliações anuais. O plano não é uma obra acabada."