Cultura

Artes visuais/
Como nascem os filmes
Diretor Michel Gondry evoca cinema low tech e estética da gambiarra em novo filme e exposição interativa

Por Paula Alzugaray

 

 

i79901.jpgNa era da informação, em que um vídeo caseiro pode ganhar o mundo e milhares de page views em poucas horas – ou encalhar de vez no anonimato da rede -, o diretor francês Michel Gondry propõe uma volta ao filme analógico, ou melhor, ao tempo em que se fazia cinema como uma experiência coletiva.

 

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"É claro que a internet conecta as pessoas", disse Gondry em coletiva de imprensa, em São Paulo. "Mas a comunicação é realmente diferente quando se está fisicamente em contato. É importante ter que sair de casa e encontrar as pessoas para fazer um filme." Essa é a proposta do projeto Rebobine, por favor, que chegou a São Paulo em forma de longa-metragem e de exposição.

O filme, uma deliciosa comédia protagonizada por Mos Def e Jack Black, conta a história de dois amigos que desmagnetizam por acidente todo o acervo de fitas VHS de uma locadora. Para que o patrão não descubra a trapalhada, a dupla decide refazer os blockbusters da locadora, começando por Caça-fantasmas e Robocop. As produções caseiras conquistam o bairro e aos poucos os amigos mobilizam toda a comunidade em produções piratas, mambembes e absolutamente geniais. O filme comove porque desmistifica a tecnologia e a indústria do cinema, propondo a criação coletiva como saída para o tédio e a mesmice.

i79902.jpgEm cartaz no MIS, Rebobine, por favor – a exposição na realidade não é uma exposição, mas uma experiência interativa, que proporciona ao público a chance de fazer um filme em três horas. Em grupos organizados a partir de inscrição prévia pela internet (www.rebobineporfavorexposicao.com.br), os participantes realizam um roteiro e têm à disposição 13 cenários customizáveis – entre eles, um quarto, uma floresta, uma cabine de trem e um fusca -, para rodar seu próprio filme. Os vídeos ficam expostos nas prateleiras da locadora Rebobine, por Favor, a mesma que aparece no longa-metragem. Nos workshops, erros são bem-vindos. Nas "regras para filmagem", Gondry é explícito: "Não se esqueça: a perfeição é uma adversária e poderá gerar desânimo no grupo."

Premiado em 2005 com o Oscar pelo roteiro original de Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Gondry começou a carreira dirigindo os vídeos da banda de rock francesa Oui Oui, na qual ele próprio tocava bateria. O diretor reconhece Rebobine, por favor como um filme autobiográfico, pois construiu sua carreira sempre em parcerias e processos colaborativos.

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Roteiros

i79906.jpgArtistas de países latino-americanos se instalam no circuito de arte paulistano. Após várias coletivas ao longo do segundo semestre, o ano encerra com três individuais que refletem a diversidade e o potencial da região. O público poderá ter um primeiro contato com a obra do artista conceitual Roberto Jacoby, que nunca expôs no Brasil. Pioneiro da performance e do uso crítico de meios de comunicação de massa na Argentina, Jacoby apresenta uma reedição de 30 cartazes (à dir.) e fotografias da série La castidad, na Baró Cruz, e um vídeo na Estação Pinacoteca. "Tenho um olhar atento, porque a arte latino-americana tem muito para dar – mais que a arte européia – e o colecionador brasileiro está perdendo o preconceito", diz a galerista catalã Maria Baró, que vive há 11 anos no Brasil e este ano apresentou uma seleção de arte contemporânea mexicana e uma individual do jovem cubano Wilfredo Prieto. O Peru está representado em São Paulo na mostra Milagros (acima), de Sandra Gamarra, peruana radicada na Espanha, e a Colômbia aparece na obra da Yolima Reyes. A iniciante Yolima foi descoberta pelo curador brasileiro Ricardo Resende, que viveu em Cali durante dois meses, durante uma residência artística. "Tenho certeza, pelo que vi, que a Colômbia vai virar moda. A produção é muito interessante e a revitalização a que o país está sendo submetido, ainda que de maneira ditatorial, deverá ajudar", diz o curador.
Colaborou Fernanda Assef