Emproadas senhoras de vestidos bufantes e sombrinhas coloridas, acompanhadas de altivos cavalheiros de bigodinho, bengala e chapéu-coco, podem sugerir o cenário de alguma cidadezinha rural da Europa, na virada do século XX. A diferença está nas máquinas voadoras que passam à meia altura, mistura de zepelins e tílburis, dando um ar de magia à metrópole. De fato, O castelo animado (Hauru no ugoku shiro, Japão, 2004), que estréia no País na sexta-feira 5, é o resultado do encontro entre a imaginação delirante do cineasta japonês Hayao Miyazaki e a delicadeza da escritora britânica Diana Wynne Jones, autora do romance em que o filme foi inspirado. A história gira em torno de Sophie, uma garota que trabalha como chapeleira na loja do pai e é salva de um assalto por um galante desconhecido que a leva a voar. Mal sabe ela tratar-se de Hauru, uma mistura de playboy e bruxo, menina-dos-olhos da Feiticeira dos Pântanos, que, ciumenta, transforma Sophie em uma velha de 90 anos. E é como velhinha que a garota vai conhecer, e morar, no castelo-que-anda – com pés, mecânicos, de galinha. Propriedade de Hauru, o castelo é habitado por Markl, um garoto que usa uma barba postiça na frente de estranhos, e Calcifer, um demônio de fogo, mais travesso que maldoso, responsável pela locomoção do edifício.

Miyazaki, 64 anos, é o rei da animação em seu país, dono das maiores bilheterias. Ao finalizar seu penúltimo filme, Princesa Mononoke, de 1997, ameaçou despedir-se das telas em razão da estafa. Voltaria em 2001 com A viagem de Chihiro, premiado com o Oscar de longa-metragem de animação e o Urso de Ouro do Festival de Berlim, o que deve se repetir com Castelo, que causou sensação no Festival de Veneza de 2004. Mais uma vez o cineasta afirma que esse é seu último filme,
mas poucos acreditam. Distribuído nos Estados Unidos pela Disney, o filme
não funcionou muito dublado – com as vozes do Batman atual, Christian Bale,
do comediante Billy Crystal e das lendárias atrizes Jean Simmons e Lauren Bacall. Também pudera, Miyazaki não apela para modismos de linguagem e dispensa
a computação gráfica, preferindo trabalhar com animação tradicional, quadro a quadro. Embalado pela trilha do parceiro Joe Hisaishi e pela canção-tema de Yumi Kimura, autora também do tema de Chihiro, O castelo animado flui como um sonho bom. Só que sonhado por um gênio. Não é à toa que o cineasta odeie ser chamado de o Walt Disney japonês.