Um trocadilho meio cifrado, comum a uma ala do público roqueiro paulistano, refere-se à banda carioca Los Hermanos como “loser manos” (manos perdedores), em razão de sua atitude indie tristonha, completada pelo visual barbudo, longe das modas. A brincadeira –de resto bastante carinhosa – não visa alimentar a velha rixa entre as duas cidades, já que o quarteto do Rio de Janeiro tem um público cativo e sempre lota as casas de espetáculos paulistanas. Mas faz todo o sentido. Em 4 (Sony BMG), que chega às lojas esta semana, o grupo, formado por Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba, assume sem medo aquele lema tropicalista de Geléia geral – se alegria é a prova dos nove, a “tristeza é teu porto seguro”. Com melodias melancólicas e letras sobre amores e dissabores do coração, a banda segue firme no propósito de casar rock e dor-de-cotovelo com uma sensibilidade mais contemporânea.

São ao todo 12 músicas, sete assinadas por Camelo e cinco por Amarante, a dupla que se reveza nos vocais –sem que ninguém perceba. E Los Hermanos acertou em todas, especialmente em Fez-se mar, Os pássaros e Sapato novo, essa com uma poesia digna de Cartola. O que significa dizer que se está diante de um disco muito bom, tão bom quanto o antecessor, Ventura, de 2003. Os metais e sopros que eram marca da banda foram por ora deixados de lado – só aparecem na épica Horizonte distante e na calma Dois barcos, que abre o CD, somando o piano de Medina a clarinetes, fagotes e trompas. “É natural buscar outros caminhos”, afirma Camelo. Ele adora subir a serra para compor – 4 foi gestado em um sítio em Araras, na região de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro – mas nega qualquer influência do mineiro Lô Borges e sua guitarra melodiosa.

Não descarta, contudo, a sombra de Dorival Caymmi, citado no verso “Doce o mar perdeu no meu cantar” de Dois barcos. “Um acorde de Caymmi remete a todo o universo brasileiro. Ele é um dos pilares da nossa música, é claro que é uma influência.” Sambas, latinidades, jovem guarda, new bossa, guitarras a Johnny Marr (dos Smiths) e Paul Weller (do Style Council) aparecem aqui e ali. Nada disso, segundo Camelo, é pensado na feitura do disco. “Somos muito intuitivos”, afirma ele, que identifica o mesmo sentimento de suas músicas em poetas como Fernando Pessoa ou bandas como os Smiths. “Temos um olhar menos apressado.” Com show marcado em São Paulo para o último fim de semana de setembro, Camelo lamenta não estar em Curitiba para ver a banda americana Weezer, primeira influência do grupo. Perto da maturidade artística, seu período de fã parece definitivamente enterrado.