Brasil

Pronta para outra
A senadora Roseana Sarney fala à ISTOÉ como convive com um aneurisma no cérebro e se prepara para sua 21ª cirurgia

Rudolfo Lago

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Com um largo sorriso no rosto, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) cantou os versos em inglês da canção London, London, de Caetano Veloso. “Grama verde, olhos azuis, céu cinza, Deus abençoe a dor silenciosa e a felicidade”, diz a tradução da letra. Não havia nem uma semana que ela descobrira que tem um aneurisma de seis milímetros na região cognitiva do cérebro, uma pequena bomba que pode estourar a qualquer momento. Nem de longe desesperou-se. Na festa de confraternização de fim de ano na casa da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), fez duo com a anfitriã. Ao violão, estava o ministro da Coordenação Política, José Múcio Monteiro. O episódio resume a atitude otimista da senadora diante do problema que lhe renderá nada menos que sua 21ª cirurgia. “Eu sempre opto pelo otimismo. Nunca encaro nada na minha vida, seja pessoal, seja profissional, com pessimismo”, disse Roseana à ISTOÉ na tarde da terça-feira 2 em sua casa, no Lago Sul, em Brasília, enquanto, serena, comia com gosto uma rabada.

 

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“Roseana é a paciente ideal. Ela participa das decisões”

Neurologista Lúcia Viladino Braga, diretora do Hospital Sarah Kubitschek

i80048.jpgRoseana tem 55 anos e desde os 19 freqüenta mesas de cirurgia. Chegou a ser desenganada uma vez. Longe de se abater, a senadora fala com desenvoltura sobre sua saúde precária. “Se sou uma pessoa pública, as pessoas têm de saber da minha real situação. A forma como lido com meus problemas pode servir de exemplo para outros que passem por transtornos semelhantes”, diz ela. Em seguida, alerta: “Agora, uma coisa que não aceito é ser tratada como coitada.”
Não seria correto, no entanto, dizer que o destemor de Roseana com o novo problema é absoluto. A senadora tem perdido noites de sono. Ela descobriu o aneurisma há três semanas fazendo exames de rotina no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O infectologista David Uip, um dos médicos que tratam da senadora, resolveu pedir uma tomografia com contraste. E encontrou o aneurisma: uma pequena bolinha, numa bifurcação entre duas veias, na região do cognitivo, numa linha reta bem atrás dos olhos de Roseana, um pouco deslocada para o lado esquerdo. Desde então, uma das principais atividades de Roseana é pesquisar seu caso na internet. “Ela é a paciente ideal”, elogia a neurocientista Lúcia Viladino Braga, diretora do Hospital Sarah Kubitschek e uma das profissionais que a acompanham. “Ela pesquisa, mas não tira suas conclusões sobre o caso, o que seria perigoso. Ela tira as dúvidas conosco. Entende o problema e participa das decisões.”
Lúcia Braga explica o quadro da senadora. “A literatura diz que não se operam aneurismas abaixo de cinco milímetros e recomenda a cirurgia para aqueles com mais de oito milímetros. O de Roseana fica na zona cinzenta em que se pode ou não recomendar a cirurgia. No caso dela, recomendamos”, diz Lúcia. “Se estourar, a chance de seqüelas graves é grande. Em contrapartida, está numa região externa ao cérebro. A remoção é relativamente simples”, explica ela.

 


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