A paixão do compositor Tom Jobim pelo Jardim Botânico, a alguns quarteirões de sua casa, no Rio de Janeiro, era tão grande que foi naquele cenário de palmeiras-imperiais e saracuras que ele passou seus momentos derradeiros. Em dezembro de 1994, quando morreu, o maestro foi velado no primeiro jardim brasileiro, iniciado pelo rei de Portugal dom João VI em 1808.

Há 17 anos, o mesmo Jardim Botânico foi cantado em prosa e imagem por Tom Jobim e pela sensível objetiva do fotógrafo carioca Zeca Araújo. A dupla produziu Tom Jobim, meu querido Jardim Botânico, coleção de 125 fotografias, comentários e poesias, lançada em versão bilíngüe e com textos de próprio punho (Ed. Jobim Music, 143 pág., R$ 49).

A sensibilidade do maestro extrapolava o parque de 54 hectares. Jobim acompanhava tão de perto o espaço que conhecia a época de cada fruto e sua floração: “… Em março, o fúcsia, o cíclame dos jambeiros em flor, o manto púrpura sobre o chão. Depois os jambos maduros, mal redimidos da noite, frios, nítidos, como uma natureza-morta, bicados de pássaros, a polpa branca à mostra, a púrpura dos frutos sobre a areia dourada.”

As aléias de palmeiras-imperiais, marca registrada do jardim, tiveram origem na Palma Mater, trazida do Caribe e plantada por dom João VI. O gesto do monarca atiçou a cobiça dos nobres tupiniquins, que pagavam 100 réis a cada semente furtada pelos escravos para imprimir um ar aristocrático a suas fazendas. A planta original, que pode alcançar 50 metros, morreu em 1972, fulminada por um raio. Mas esse não parecia ser o maior atrativo do local para o maestro. “O meu Jardim Botânico não é muito das palmeiras-imperiais / É mais obscuro, da borda do mato / Das sabiás, dos micos, do caxinguelê.”

Quando passeava pelas alamedas, Tom Jobim não apreciava apenas a fauna
e a flora. Dividia seu encantamento com quem passasse e não dispensava a
prosa com seu BiuBiu, o jardineiro que fazia biscates em seu jardim. Aprendia segredos de plantas, filosofia e ciência. Sempre atento aos mínimos sinais da natureza, ele não escondeu o espanto quando soube, com seu BiuBiu, que o ano seguinte seria chuvoso por causa da altura em que se formou uma casa de cogumelos no tronco de uma árvore.

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