O escândalo da dinheirama que abala o PT e os aliados PTB, PL e PP atravessou os muros da oposição: o PFL e o PSDB foram flagrados e reconheceram em suas campanhas eleitorais repasses de verba da DNA e da SMP&B, agências de Marcos Valério. Sinal de que a lama se espalha, democraticamente, sobre todo o tapete partidário, da esquerda à direita, do governo à oposição. Um tal constrangimento que, na quinta-feira 28, surgiu na Câmara a ponta de um acordão para livrar a cara de acusadores e acusados.

Por mágica do presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), iria retirar sua denúncia de quebra de decoro contra o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), as três siglas enroladas no mensalão do PT. Sem denúncia, sem queixa, o acordão varreria toda a sujeira para um canto do Congresso. Só faltou combinar com a indignada opinião pública – e, por este detalhe, os três personagens acabaram desmentindo a tramóia.

Enquanto o ex-presidente Fernando Henrique
prefere defender a tese de que os acontecimentos registrados no período de suas duas gestões são parte da história e não devem ser esmiuçados pelas CPIs, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, está preocupado com o desenrolar dos trabalhos e propõe uma trégua. Ele conversou com lideranças do governo e da oposição sobre a necessidade de preservar a figura do presidente Lula. “Se o impeachment vier, o eleito não terá condições de governar o País”, alerta Jobim. “O Brasil não pode virar uma Bolívia”, ecoa um dos ministros mais próximos de Lula, igualmente preocupado.

O PSDB de Minas recebeu nada menos que
R$ 11,7 milhões da DNA para irrigar a campanha para reeleição do governador Eduardo Azeredo, hoje presidente nacional do partido. O dinheiro teria sido tomado emprestado pela DNA ao Banco Rural em 19 de agosto de 1988 e repassado aos tucanos. O banco nunca recebeu o dinheiro de volta. A SMP&B, de Marcos Valério e, na época, de Clésio Andrade, que foi candidato a vice e hoje ocupa o cargo no governo de Aécio Neves, por sua vez, repassou dinheiro a pelo menos 70 políticos mineiros (ou assessores) da coligação de Azeredo.

Os destaques são os deputados federais Romel Anísio (PP-MG), com R$ 100 mil, e Custódio Mattos (PSDB), com R$ 20 mil. Paulo Abi-Ackel, filho do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), hoje relator da CPI do Mensalão, aparece com R$ 50 mil. Abi-Ackel pai, por sua vez, faturou R$ 150 mil, também em 1988. Essa lista mostra que o PFL recebeu R$ 1,36 milhão, o PTB R$ 1,15 milhão, o PSDB mais R$ 847 mil. Já a lista de saques recentes no Banco Rural em Brasília não pára de crescer. As novidades foram R$ 20 mil sacados por um assessor do ex-líder do governo, deputado Professor Luizinho (PT-SP), R$ 50 mil para o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) e R$ 29 mil para o deputado João Magno (PT-MG). Um assessor do deputado Luiz Pihauylino (PDT) foi nada menos que 86 vezes à agência do banco sacar dinheiro. O valor total ainda não foi computado pela CPI.