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Um carro oficial do governo francês saiu em disparada do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, em direção ao Palácio do Eliseu. Seu ocupante era aguardado, com urgência, pelo presidente Nicolas Sarkozi. O visitante entrou, falou, ouviu e saiu sem ser visto. O conteúdo da conversa virou segredo de Estado. Na quinta-feira 24, dia em que a França vivia uma greve geral em protesto contra um projeto governamental para cortar gastos com a Previdência, só o assunto foi revelado: futebol. Sarkozi mudou toda a sua agenda (sob protestos da oposição) para receber o atacante Thierry Henri, estrela do time que protagonizou um dos mais retumbantes fracassos da Copa da África. Humilhada no campo, a França fez da eliminação uma questão nacional.

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O CAPITÃO
Evra chorou e prometeu contar detalhes da baixaria nos bastidores

Dramático por natureza, o povo francês assistiu, atônito, à eliminação da seleção de Raymond Domenech. Em Paris, diante do imenso telão instalado nos jardins do Trocadéro, com a torre Eiffel ao fundo, torcedores cobriam o rosto com as mãos ou com a bandeira tricolor enquanto os Bleus perdiam por 2 a 1 da África do Sul. Na terça-feira 22, a França saiu da Copa da maneira como entrou, após o infame gol de mão de Henry contra a Irlanda na etapa classificatória, em novembro de 2009: desonrada. Horas depois do jogo, um escocês tocava melancolicamente sua gaita de foles sobre a ponte d’Léna, que liga a torre ao Trocadéro. Enquanto isso, os jogadores e dirigentes franceses saíam à francesa e tomavam o caminho de volta, envergonhados com o maior papelão da história do esporte no país. Não faltou baixaria: o atacante Nicolas Anelka xingou a mãe do técnico e foi expulso da seleção. No dia seguinte, um domingo, os colegas fizeram greve de solidariedade e se recusaram a treinar, numa rebelião possível somente numa equipe que carrega a Revolução Francesa no inconsciente e continua revoltada contra a ordem dominante. O capitão Evra chorou prometeu revelar detalhes da baixaria nos bastidores.

O governo fran­cês prometeu fazer uma auditoria sobre a seleção, a última colocada do Grupo A. Espantada, a ministra dos Esportes, Roselyne Bachelot, falou duro e classificou o jogo como a conclusão inevitável de um desastre. “A seleção francesa é um campo de ruínas, tanto em termos físicos como técnicos e morais. Será preciso reconstruir tudo”, afirmou. A imprensa também caiu matando. O jornal “Libération” fez trocadilho com o apelido da seleção sul-africana, os bafana bafana. Num título, estampou: “Les Français, pas fanas, pas fanas” (Os franceses não fanáticos, não fanáticos). O final da história é previsível. A guilhotina vai prevalecer sobre todas as cabeças dos jogadores e dirigentes.

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