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Especial
Sérgio Cabral
Sob a liderança do governador Sérgio Cabral, o Rio de Janeiro recebeu os maiores investimentos públicos e privados dos últimos anos, além de ter sido recolocado no cenário político nacional

Por Francisco Alves Filho

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Os antecessores, Anthony Garotinho e, depois, sua mulher, Rosinha, faziam oposição ao presidente, e mesmo Marcello Alencar (PSDB) sempre reclamou da falta de atenção do correligionário FHC. Com a vitória nas eleições, Cabral iniciou um relacionamento harmonioso com Lula e os maiores dividendos apareceram neste ano. Não é apenas uma parceria por interesse, garante ele. "Acredito no governo do presidente Lula. Ao mesmo tempo, é sério do ponto de vista fiscal e também popular, sem ser populista", exalta. "É preocupado com os mais pobres, sem demagogia".
Desde o início de 2007, Cabral e Lula são unha e carne. Além das dezenas de vezes em que estiveram juntos, sempre conversam por telefone. O governador freqüentou sessões do cineminha do Alvorada, o presidente passou o fim de semana na casa de Cabral, em Mangaratiba, em setembro. Não se pode medir apenas em cifrões os resultados dessa condição privilegiada. O governador fluminense tornou-se o principal interlocutor de Lula no maior partido da base aliada, o PMDB. Com isso, o seu cacife político – e também do Rio – aumentou consideravelmente. Uma das conseqüências mais visíveis é a quantidade de ministros fluminenses no gabinete de Lula. São seis (Saúde, Meio Ambiente, Cidades, Trabalho, Igualdade Racial e Política para as Mulheres), número que não era registrado havia décadas.

Cabral é visto pelo Planalto como trunfo para garantir o apoio peemedebista à candidatura de Dilma em 2010, levando o partido a abrir mão de um cabeça de chapa. O governador tem correspondido. Só trata a ministra por "presidente" ou "minha candidata" e defende que o vice saia do PMDB do Nordeste ou do Norte. Não poderia ser do Rio, talvez ele próprio? "Não. Sou candidato à reeleição", garante. Sempre que pode, derrama-se em elogios a Dilma: "Ela é uma pessoa preparada, decente, honesta." Nem mesmo o déficit de carisma apontado pelos críticos da ministra seria, segundo Cabral, um empecilho à candidatura. Por via das dúvidas, o governador tem uma receita para dar à ministra algum traquejo eleitoral: "Em duas caminhadas no calçadão de Madureira, ela estará pronta."
Mas nem só de recursos federais vive sua gestão. "O Rio tem hoje o maior investimento privado da América Latina", diz , referindo-se à Companhia Siderúrgica do Atlântico, empreendimento de R$ 3 bilhões. No Norte do Estado, o Porto do Açu, do empresário Eike Batista, é outro destaque, recebeu uma das maiores injeções de dinheiro privado no País. O estilo boa-praça é, sem dúvida, uma das características mais visíveis de Cabral. O governador, no entanto, não abre mão de ser duro quando necessário. Contra os altos níveis de criminalidade, ele apostou no endurecimento e os embates entre polícia e bandidos se multiplicaram. Em conseqüência, o nível de homicídios caiu. O efeito colateral, no entanto, não é pequeno. Nesses tiroteios, a PM matou cerca de 1.300 pessoas em 2007 e no primeiro semestre de 2008 foram registradas 757 vítimas, contabilizadas como marginais. Por falta de investigação posterior, não se pode ter certeza se todos os mortos realmente eram bandidos que atacaram a polícia ou inocentes atingidos no fogo cruzado. Logo surgiram as críticas, mas Cabral não cedeu um milímetro. "Os cientistas políticos vivem num mundo de mar de rosas, falam em política do confronto. Mas, se um bandido dá um tiro na polícia, fazemos o quê? Damos uma rosa para ele?"
i79811.jpgEm seu governo, os professores tiveram aumento em 2007 e 2008. "Eles não eram reajustados há 12 anos", destaca. Na área da Saúde, a situação é mais complicada. Volta e meia o governador precisa ser rude com médicos que faltam a plantão nos hospitais de emergência. Na última vez, chamou os faltosos de "vagabundos" e foi criticado. "Não foi um rompante. Reconheço que ganham mal, mas profissionais que faltam ao plantão não merecem outra qualificação, são vagabundos mesmo", reafirma. Neste setor, sua maior realização foi a implantação das Unidades de Pronto-Atendimento (UPA), ambulatórios instalados em contêineres onde são feitos vários tipos de exames e consultas. Vinte destes foram inaugurados nos últimos meses e dez serão inaugurados em 2009. Ao todo, serão 40, ao custo de R$ 2,5 milhões cada. A idéia foi aproveitada na campanha de Eduardo Paes, o prefeito eleito do Rio. "Olha que apostei nele quando tinha 5%", gaba-se.

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Os momentos de fúria são raros, quase sempre o governador é um comandante afável. Olha para o passado sem rancor. "Encontrei esse Estado em situação precária, mas não reclamo", diz. Quanto ao futuro, aposta em bons tempos. "A crise não vai nos afetar tanto", acredita. Não planeja obras monumentais e faz apologia do trabalho duro. Em meio a essa pauleira, procura não deixar de lado a família. Na segunda-feira 1º, acompanhou a cirurgia de fimose de um de seus cinco filhos e sempre que pode leva a garotada aos estádios de futebol. Até mesmo nesse item, faz parceria com o presidente Lula, que é corintiano em São Paulo e vascaíno no Rio. O governador é torcedor do time desde os 6 anos, influenciado pelo pai, o jornalista e escritor Sérgio Cabral, um dos fundadores do Pasquim. Com o Vasco em péssima fase, esse talvez seja o único assunto sobre o qual o governador e o presidente não têm motivo algum para sorrir.

Ao fim da manhã de trabalho do governador do Rio de Janeiro, o ajudante-de-ordens entrou no suntuoso gabinete do Palácio Laranjeiras para avisar: "Ela chegou." Sérgio Cabral interrompeu suas tarefas e assumiu o papel de anfitrião com um afago político. "Minha presidente!", bradou. Era a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, quem cruzava a porta. Antes de seguirem para um compromisso oficial, Dilma, virtual pré-candidata do PT à Presidência, e Cabral (PMDB) engrenaram um bate-papo animado. Aos risos, ele contou histórias de sua bisavó e ela pediu para matar uma curiosidade incomum: conhecer o amplo e luxuoso banheiro do gabinete, feito em mármore rosa e de Carrara – excentricidade dos antigos donos do palacete. Tudo num clima informal, a marca de Cabral, mas que raramente é associado a Dilma. Essa intimidade, testemunhada por ISTOÉ na quintafeira 27, foi também verificada no encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dois dias antes, e nas outras 38 vezes – contadas na agenda – em que estiveram juntos nos últimos dois anos. Com jeitão de carioca, nascido há 45 anos no bairro do Engenho Novo, zona norte do Rio, Cabral define a parceria com Lula e sua equipe: "Rolou uma empatia." O bom relacionamento entre o governador e as autoridades do Planalto é o principal feito de sua gestão. Assim, ele conquistou R$ 12 bilhões em recursos federais para gastar em obras. De quebra, recolocou o Rio no roteiro político nacional.
Cabral anda exultante com o resultado dessa tabelinha com o governo federal, algo impensável antes de sua posse. "O Estado recebeu em 2008 um montante de verbas que não recebia havia dez anos. Em 2009, o Rio terá investimentos que não vê há 20 anos", contabiliza. A maior parte desses recursos é destinada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O empreendimento deverá render ao governador uma série de inaugurações nos próximos meses. Há também o Arco Rodoviário, em Itaguaí, o Complexo Petroquímico de Itaboraí e outros subprodutos desse entendimento. A estratégia de aproximação foi montada ainda durante a campanha. Com São Paulo e Minas Gerais governados por dois tucanos, Cabral percebeu quanto seria importante para Lula ter o governador fluminense como aliado. Em contrapartida, seu Estado poderia receber um tratamento que há tempos não tinha.

O governador do Rio se tornou o principal interlocutor de Lula junto ao maior partido da base aliada, o PMDB
 


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