O ambientalista Russell Mittermeier diz que o Brasil entrará nessa ?onda? se barrar o desmatamento

Uma das maiores autoridades do mundo sobre meio ambiente, o antropólogo e primatologista americano Russell Mittermeier é um dos generais na cruzada verde. Não por acaso, ele conseguiu recrutar personalidades do porte do ator Harrison Ford e executivos de empresas gigantes como Intel, Starbucks e Walmart para o time de diretores da Conservação Internacional, organização não governamental que preside há 20 anos. Na entrevista a seguir, concedida durante sua passagem relâmpago pelo Brasil para divulgar o livro "A Climate for Life" (Um clima para a vida), Mittermeier falou com exclusividade à Istoé sobre as questões ambientais mais urgentes no País e no mundo.

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"A adaptação às mudanças climáticas é inevitável para salvar o planeta"
Russell Mittermeier, ambientalista,

ISTOÉ – Quais ações são prioritárias para salvarmos o planeta?
Mittermeier

A adaptação às mudanças climáticas é inevitável para salvar o planeta e fomentar o desenvolvimento sustentável. Todas as nações e os setores produtivos têm de reduzir agressivamente os níveis de emissão de gases do efeito estufa. Nesse sentido, as discussões na 15ª Conferência das Partes da ONU (marcada para dezembro, em Copenhague) são essenciais.

ISTOÉ – Ainda há tempo?
Mittermeier

Sim, mas temos de tomar uma posição agora. O assunto é transversal e impacta diversos setores fundamentais para o bem-estar humano.

ISTOÉ – Qual é o problema ambiental mais grave no Brasil?
Mittermeier

O desmatamento é a principal causa de poluição no País, contribuindo com mais de 70% das liberações de gases do efeito estufa. Há ainda as emissões crescentes das indústrias e do transporte, bem como dos setores de infraestrutura e agricultura. O Brasil precisa rever constantemente a sua matriz energética, mantendo-a sempre limpa e renovável.

ISTOÉ – Quais são os vínculos entre meio ambiente, pobreza e saúde?
Mittermeier

A qualidade de vida depende da manutenção de um meio ambiente saudável, capaz de prover serviços vitais como água potável e alimentos. Por exemplo, a falta de água causa efeitos diretos na produção agrícola, que, por sua vez, pode levar ao aumento da fome e da pobreza.

ISTOÉ – Qual é a sua opinião sobre os biocombustíveis?
Mittermeier

Não podemos cortar mais árvores nativas para cultivar canade- açúcar, por exemplo. Além disso, os biocombustíveis também não podem ocupar o lugar das lavouras de alimentos. A solução é aumentar a produtividade nas terras cultivadas, sem expandir as plantações para áreas preservadas.

ISTOÉ – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a energia nuclear será a melhor alternativa para o Brasil no futuro. O que o sr. pensa disso?
Mittermeier

Sabemos que a energianuclear é uma opção que não emite CO2, mas ainda há controvérsias quanto ao depósito de resíduos radioativos no meio ambiente.

ISTOÉ – O Cerrado brasileiro está na lista de hotspots (áreas nas quais a manutenção da biodiversidade é prioridade) da Conservação Internacional. Como o sr. avalia a situação da região?
Mittermeier

O Cerrado representa uma grande fronteira agrícola e recebe apenas uma fração da atenção dispensada à Mata Atlântica ou à Amazônia. A região é uma das mais importantes florestas secas do mundo, berço dos rios que formam as bacias hidrográficas mais importantes do Brasil, e há muito a ser feito para protegê-la.

ISTOÉ – O derretimento das calotas polares realmente redesenhará o litoral dos continentes?
Mittermeier

A elevação dos oceanos deverá riscar do mapa países como a Ilha de Tuvalu [Oceania], que está apenas um metro acima do nível do mar. Se a temperatura média global subir dois graus centígrados, várias ilhas em situação semelhante tendem a desaparecer. Estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) mostram que o aumento do nível dos oceanos e as alterações na temperatura da água causarão catástrofes em todo o planeta.

ISTOÉ – Existe uma moda verde. O que o sr. acha disso?
Mittermeier

Ser verde virou moda e isso é muito bom. Da mesma forma, é bom que as pessoas pensem assim e acreditem em novas propostas.